sexta-feira, 8 de julho de 2011

Os Lambe Botas, Bem Retratados

Entraram-me uns grãos de areia nas engrenagens, pelo que não sai assunto que valha a pena, pelo menos comparado com o que a seguir mostro, da autoria do Miguel Esteves Cardoso, umas das grandes inteligências que andam por aí quem sabe sub-aproveitadas, é para mim estranho que uma Pessoa com uma «bagagem» deste calibre, não nos apareça por aí em «horário nobre» numa das televisões que por aí há, mas talvez até tenha a sua explicação, quando os medíocres estão na mó de cima, não têm lugar os que mostram capacidade nas mais diversas áreas, é pena.


Acho que o termo CULAMBISMO caracteriza bem este desporto tão em moda...

Os lambe-cus

"Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril.
Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele.
Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista.
O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios.
Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta.
À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.
Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço».
Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores,os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc... Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso.
Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada. O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava de um engraxador.

Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até ao cu.
O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu.
Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu.
Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing.
Os praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo.

(...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional.
O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês."

Miguel Esteves Cardoso, in "Último Volume"

5 comentários:

Anónimo disse...

Juntando esta de pesquisador que tão bem sabes fazer não podias arranjar um artigo mais oportuno para o momento presente.
Dizes e muito nbem que ele é dotado de uma capacidade intelectual rara.
Gente com este grau de intelectualidade e frontalidade não dão jeito nenhum pelo contrário são muito indegesto para os medíocres.
Felizmente que temos muitos como Miguel Esteves Cardoso e que começam a dar a cara.
Serão bem vindo e de necessidade urgente.
bom fim de semana e um abarço amigo Valdemar Marinheiro.

Piko disse...

Sabes Virgílio quero dizer-te por hoje o seguinte:
Sinto-me na obrigação de te dizer que fizeste muito bem em cancelar o teu último blog e abrires o NOVO OBSERVADOR, que está a observar muito bem!
Vejo que fizeste uma transição de luxo, sinal de que evoluíste imenso na forma de comunicar!
Penso que nenhum dos nossos amigos BLOGUISTAS vai ficar chateado, por dizer aqui e agora, que me pareces ser o que mais evoluiu neste último ano!... Bem, eu pressenti que ia sair alguma coisa de jeito quando anunciaste com um seco "TERMINEI"... Se reparaste, "nem tugi nem mugi", como dizem os mais caladitos e aguardei, calmo e sereno e nem fui fuzileiro nem marinheiro, como sabes só há pouco nos temos vindo dado a conhecer... Ao fim de poucos dias tivemos a tua resposta e nenhum de vós viu (era impossível) o meu sorriso, orelha a orelha, como se fazia aqui pelas bordas do Douro e que o Valdemar Marinheiro tão bem se recordará!...
O Virgílio tenho vindo a brincar e já te apercebeste disso, mas crê que fico mesmo contente por demonstrares a ti mesmo que tens capacidades intrínsecas, como agora se diz.
Um grande abraço rapaz! Oeiras e sobretudo Porto Salvo precisam de ti!

Anónimo disse...

Sim Senhor... A prosa dos Lambe-cús (lida 2 vezes) está um tratado!
Valdemar Alves

António Querido disse...

Se bem me lembro, quando Miguel Esteves Cardoso disse em campanha (Votem em mim, os outros já lá estão) ninguém ouviu o Homem, se calhar fizeram mal!
Este não seguiu a carreira académica do CULAMBISMO!

edumanes disse...

Observador estou aqui,
Não para te observar
De tudo o que já li
Passo agora a comentar
Com a travessa das cunhas
Ficam muitos a ganhar
Outros a roerem as unhas
Sempre os mesmos a mamar
Para mal não dizer
Não me quero alongar
Outra coisa não sei fazer
Sou sincero a trabalhar.

Um abraço
Eduardo,