Fui assaltado o mês passado, á mão desarmada levaram-me uma parte do meu subsidio de Natal, e deixaram-me uma camada de nervos que duram até hoje.
Assim, e como por norma os ladrões vão tentar vender os produtos dos roubos á Feira da Ladra, meti-me a caminho, e fui até lá ver se conseguia deitar a mão ao, ou aos gatunos, pois deixaram as impressões digitais, e ainda as minhas cameras de vigilância conseguiram captar as caras dos patifes, assim não seria difícil deitar-lhe a mão se os encontrasse.
Cheguei a tempo de ver o nascer do Sol, ia eu na zona do Cais das colunas, segui depois junto ao Rio Tejo, até Santa Apolónia, passei junto ao Hospital da Marinha e embrenhei-me na Feira própria-mente dita, mas dos ladrões nem sombra, bem procurei, perguntei, esperei, mas nada, estou em crer que o produto do roubo já se foi, talvez para ajudar na contratação de algum familiar de algum Ministro, pois é o que está a dar, assim não me restou alternativa que não fosse regressar a casa para fazer uma segurança apertada a mais alguma tentativa de assalto que já está aliás anunciado, com data e tudo, parece que lá para Junho de qualquer modo estou já de «atalaia» não vão antecipar o assalto.
Sai da Feira e passei junto á Voz do Operário até ao Largo da Graça, daí desci até á Praça da Figueira, onde «meti gasolina» e daqui até ao Terreiro do Paço, onde assisti a um espectáculo degradante, vários indivíduos deitados junto á Estátua de D. José, não creio que sejam os populares Sem-Abrigo, um deles levantou-se e dirigiu-se ao Rio onde terá ido fazer as suas necessidades fisiológicas junto ao Cais das Colunas, pelo aspecto era Estrangeiro, a Liberdade não pode ser uma porta de entrada para gente que para cá vem para dar estes espectáculos degradantes, já cá temos disto com fartura, as Autoridades têm obrigação de verificar que Gente é esta, e ver o seu modo de vida, pois são muito Jovens para estarem reformados, sei que o desemprego é um flagelo, mas ainda que sejam desempregados há com certeza locais mais propícios a uma noitada, que qui aos pés do cavalo de D. José que se pode assustar e desatar para aí aos coices.