Em especial para minha Irmã Isabel, (que tal como os meus Filhos) não gostou que eu tivesse mandado as mensagens do outro blog para o lixo, resumo aqui os cinquenta anos que se seguiram aos acontecimentos que relatei na mensagem anterior, se achares que tem interesse copía antes que me dê na cabeça e este siga o caminho do outro, não gosto de guardar o que aqui vou escrevendo por muito tempo, penso que, quem tem algum interesse na leitura de alguma mensagem o fará uma vez e quando ela ainda está «fresca» e não volta a ler a mesma, pelo que não faz sentido postar aqui uma chuva de mensagens a maior parte para «encher chouriços» como se diz na gíria, e estar a guardá-los como coisas importantes, que não são.
Não fui capaz de encurtar mais resumo dos meus últimos 50 anos, pelo que fica um pouco extenso, e ninguém irá ler isto tudo, mas também não achei bem estar a dividir a mensagem por várias, e assim sendo, aqui fica uma seca, para quem se atrever a ler de fio a pavio.
Na mensagem anterior ouve uma vida que terminou, mas outras que continuaram, entre estas a minha, que muito embora a tenha tratado muito mal, conseguiu chegar aqui, e o melhor que foi capaz foram cinco dias em coma, diz-se e com alguma razão «que vaso ruim não quebra» talvez se me aplique bem o ditado, o que sei foi que não fiz nada para me poupar, pois a vida pesava-me como chumbo, mas a tudo resisti, cheguei á conclusão que o melhor era mesmo não contrariar o destino, pelo que a partir de certa altura foi olhar em frente, tentado passar os obstáculos que a vida sempre apresenta, tropeçando, caindo e levantando-me, e para meu espanto, agora até faço dietas, caminhadas, análises e outros exames complementares como aquele da Próstata (que ainda hoje não sei que fui ao cair nessa)! tudo isto para ver se cá fico mais uns tempos, a vida tem destas coisas.
De qualquer modo a seguir aos acontecimentos que relatei na mensagem anterior, andei por aí de trabalho em trabalho, até aos 18 anos, mais desaparafusado que nunca, até que o meu Amigo e vizinho Adelino que estava na Marinha me desafiou a concorrer, pois diz-me ele: É pá! lá sempre tens comida e boa, já que parece não dares muito valor á vida vais para os Fuzileiros, daí até a uma das Guerras em África é um pulo, lá levas um balázio, e ainda te pagam o funeral e tudo, pois é mesmo isso que eu estava á espera, não é tarde nem é cedo, fui-me inscrever, (já não recordo onde) sou chamado, fiz as provas respectivas e sou alistado, mais uma vez as coisas não deram certo, por lá andei um ano e tal, mas com tantos castigos já nem em armas de fogo me deixavam mexer, a única arma se assim se pode chamar eram os sabres da velha Mauser e só para fazer plantões de castigo, a tal ida para a guerra estava assim fora de questão, pelo que acabei por cavar dali, tendo sido apanhado pela P.I.D.E. na fronteira do Caia, história que já contei anteriormente.
No inicio do Verão de 1966 sou expulso da Marinha após uns dias no xilindró no Alfeite! Não volto para a Terra, fico por Oeiras onde tinha Família, o meu Cunhado arranja-me trabalho para o Motel Continental, (hoje Inatel), onde assentei praça em Junho desse ano e por ali fico algum tempo, mas o juízo (se é que isso existe), andava noutras paragens, queria era uns copos na companhia dos meus Colegas de trabalho, ao fim duns Meses voltei para a Terra, mas por pouco tempo, voltei novamente para Oeiras e também mais uma vez para o Motel, mais umas noitadas e uns copos de regresso á Terra estou apanhado do clima e não durmo, passam os dias e nada até que uma noite a coisa explode, estou sozinho, fraco, e sem saúde mental para prosseguir o caminho, os meus Amigos Padeiros apercebem-se que estou a ir ao fundo e lançam-me uma bóia através do Padre Morais, e da Professara Adelina, sou internado em Março de 1967, em Julho saio sem alta Médica, História que já contei noutra ocasião.
Tenho nesta altura 20 anos, e como fui expulso da Marinha, para efeitos Militares é como nunca tivesse estado na Tropa, e vou ser chamado em breve para cumprir o Serviço Militar obrigatório, envio uma carta para o meu Distrito de Recrutamento (Santarém) a pedir para ser incorporado na primeira incorporação de 1968, assim aconteceu fui chamado para Infantaria 7 em Leiria, logo no primeiro dia desentendo-me com um Cabo Miliciano, e sou aconselhado ( por um Furriel que não gostaria do tal Cabo) a dar baixa á Enfermaria, para não sofrer maiores males, assim faço, sou enviado para o Hospital Militar em Coimbra, onde passo uns dias, sou enviado para o Hospital Sobral Cid, para fazer um Eletroencefalograma, que terá confirmado que havia parafusos desapertados, ou quiçá falta deles e mandam-me em paz, no dia 24-2-1968 com a recomendação de pagar todos os anos a Taxa Militar.
Estou livre do compromisso Militar, vou ter de entrar na linha, tenho 21 anos mas estou a ficar velho, vivi e sofri por mais de 5o anos, mas isto não é carregar num botão e já está! é mais complicado, ficaram sequelas do passado que dificílmente curarão, mas tenho que me esforçar para que isso aconteça, ando por aqui e por ali, trabalho nas mais diversas profissões, a maioria das quais ligadas ao ramo automóvel, quase sempre por Lisboa e Oeiras, até que um dia estou na Loja do meu Cunhado em Oeiras, a dar uma ajuda, entra uma Rapariga que eu me apresso atender, embora não trabalhasse lá, conhecia os cantos á casa em virtude de ajudar nos inventários de fim de ano, sorriso para aqui piada para acolá, uns dias depois reencontro-a, pois morava em Oeiras e ela também, nem há namoro, casámos um Mês depois, e ainda dura, estávamos em Janeiro de 1969, ia fazer 22 anos dentro de dias.
Mas o casamento só por si não dá garantias de acertar o passo com a vida que é dura, continuo a fazer a vida de solteiro, trabalho aqui e ali, mas assentar é que não, vamos até Lamego diz-me a minha Maria, na esperança que a mudança de ares me acalmasse, vamos viver para a casa dos Pais que fica a cinco quilómetros da Cidade, mas o ambiente por lá também não era dos melhores e alugámos uma pequena casa que pertencia ao Castelo da Cidade, por ali estivemos algum tempo, mas trabalho é que não havia, vamos para Oeiras que ali arranjo trabalho facilmente, assim aconteceu, o meu Amigo Dr. Gusmão mete uma cunha, e vou para a Torre do Tombo, nesta altura ainda no Palácio de São Bento, estamos no inicio de 1971 as coisa começaram a acalmar, moro em Paço de Arcos onde já tenho um Grupo de Amigos com juízo que me ajuda a entrar na linha, deixo as bebidas totalmente, noitadas nunca foi o meu género pelo que estavam criadas as condições para a máquina passar a funcionar melhor.
Na Torre do Tombo aproveito para tirar a carta de condução, e após alguns Meses de permanência (um recorde) desatino com o Director e despeço-me, trabalho não faltava nesse tempo pelo que não foi difícil recomeçar, agora fazendo uso da carta de condução ainda fresquinha, vou para Alcoitão como chofer e caseiro e a minha Mulher para cozinheira dum Casal Sueco, e onde nasce o meu primeiro Filho Varão, aí permanecemos uns Meses. No Verão alugaram a casa (e a nós próprios sem nos consultar) a uma Americana maluca, que não queria Crianças lá em casa pelo que tive a Menina dois meses escondida até ao regresso dos Suecos, embora com Menino que tinha apenas dois Meses a maluca não tenha colocado objecções á sua permanência na casa, no regresso dos donos da casa em Setembro apresentei a minha demissão, pelo vexame porque passámos! é a vida.
Tinha já trabalho quando de lá saí, para chofer particular duma Família Amiga de Paço de Arcos, conhecia toda a Família excepto aquele para quem iria trabalhar, contrataram-me dizendo-me que era como se fosse da Família (por eu ser Amigo do Genro entretanto falecido em acidente de viação) ao fim de algum tempo vem com uma conversa de merda, desconfiando da Nora (lá teria as suas razões) e que eu quando a fui transportar fui armado em galã, por não ter ido fardado, (era o meu dia de folga), e que o Filho estava em África e depois as Pessoas falavam e mais isto e aquilo e pardais ao cesto, para eu quando a transportasse ir fardado! uma verdadeira conversa da treta, mandei-o dar uma volta e despedi-me.
Fui de seguida contratado para fazer a reparação da Iluminação Publica do Concelho de Oeiras, e ainda Queluz e Cacém do Concelho de Sintra, um trabalho á minha medida, não estava preso entre quatro paredes (galo do campo não quer capoeira), ar livre é que é bom, estamos no ano de 1973, a coisa caminha sobre rodas, sou o responsável pelo serviço, e só vou a Lisboa prestar contas ao Patrão uma ou duas vezes por semana, recebo directamente da C.R.G.E. as avarias, faço as reparações ou substituo os candeeiros inutilizados com o meu Ajudante e dou mais tarde conta do trabalho feito e respectivas despesas, nomeadamente com o combustível da viatura, o meu pré e do meu Ajudante.
Até que chega o "Verão Quente" de 1975, e terminam abruptamente o contrato com a Companhia de Electricidade, e eis-me mais uma vez no desemprego, e agora a coisa fia mais fino, devido á efervescência do momento está complicado arranjar trabalho.
Aproveito todos os trabalhos que vão aparecendo, para ganhar algum, mas trabalho certo nada, até que em meados de 1976, arranjo trabalho nos Serviços Municipalizados de Oeiras, onde permaneço até á aposentação, finalmente consegui criar raízes num trabalho, comecei pelo degrau mais baixo da escada, subi até ao mais alto dentro da categoria, cunhas! Fui sempre bem tratado por Superiores e Subordinados, sei que nem sempre fui muito «diplomata» no relacionamento Pessoal, sou um bocado «casca grossa», e com o coração ao pé da boca, e quando as coisas não iam ao meu gosto lá saía foguetório, mas todos já me conheciam o suficiente para compreender que era sempre para melhor servir quem nos pagava o ordenado ao fim do mês, os Consumidores.
3 comentários:
Também, acho e concordo contigo, não se deve contrariar o destino.
Seguir em frente e procurar o caminho certo por onde se deve seguir, ficar de braços cruzados à espera que a sorte venha ao nosso encontro, isso pode ou não acontecer.
É quase como num jogo de futebol, têm que os jogadores correrem ao encontro da bola e não esperarem que ela venha ter com eles.Mesmo que tropecem não devem ficar parados. Essa do teu amigo Adelino dizer que parecias não dar muita importância à vida. O melhor seria ires para a Marinha, lá tinhas comidas, e daí até uma das guerras em África era um pulo, e se levasses um balázio te fariam o funeral sem qualquer custo para ti.
Ficavas lá abandonado como muito, infelizmente, ficaram.
Gostei do texto, está tudo muito bem explicado.
Resto de bom domingo, agora só falta a selecção vencer, para poderem seguir em frente, sem que para isso seja preciso contrariar o destino.
Um abraço
Eduardo.
Li tudinho meu amigo e fiquei com vontade de ler mais, tens histórias espetaculares, davam para escreveres um livro e o jeito sempre com humor e humildade como as contas, leva-nos a querer mais, continua, tens aqui um fã!
O meu abraço
Olá Virgílio;
Confesso quenão sou um leitor assíduo dos blogues, mas, de vez em quando gos to de dar uma vista de olhos para saber como andam as coisas e deparei-me com a tua história de vida. Uma história arrepiante que me deixou sériamente comovido.
É que em parte, principalmente as dificuldades várias que existiam no tempo da nossa juventude, quer no seio das famílias, quer no dominio do trabalho, era tranversal a toda a sociedade que, tal como nós, não nascedu em berço dourado. No aspecto laboral, também a minha história se cruza com a tua. Eu costumo dizer aos que me são mais próximo, que ainda vivi no tempo da escravatura, porque além do trabalho no campo ser de sol a sol como era hábito, tive trabalhos sazonais em que tinhamos de trabalhar meia hora antes do sol nascer e meia hora depois do sol se por, com meia hora para o almoço (nove horas), duas horas para o jantar e sesta (treze horas), e vinte minutos para merenda.
Por isso te compreendo meu amigo.
Penso que ao partilhares a tua história, deves sentir-te mais aliviado encarando a vida com mais naturalidade.
Um grande abraço e tal como o Querido fiquei teu fã.
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