sábado, 5 de maio de 2012

Boaventura Sousa Santos

Nos últimos tempos tenho trazido aqui alguns artigos saídos nos Jornais que por alguma razão me chamam a atenção, hoje trago mais umas linhas de uma longa entrevista que o Sociólogo Boaventura Sousa Santos dá ao Jornal i deste Sábado, quem quiser ler a entrevista na sua totalidade esta está disponível no site do próprio Jornal, por mim tirei um excerto que considero notável pela sua actualidade e acutilância, sempre gostei de palavras claras e de chamar os bois pelos nomes, seja em que circunstância for, e quando assim acontece tem o meu aplauso, como é o caso em apreço.
O professor de Coimbra acredita que existe uma alternativa à política da troika. A formação do Observatório sobre Crises e Alternativas pretende municiar a sociedade civil de pistas para trilhar um outro caminho. Para Boaventura Sousa Santos, essa política passa por desobedecer à troika.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse recentemente que o modelo social europeu tinha morrido.

O que se pode esperar de um homem da Goldman Sachs? A Goldman Sachs é uma espécie de companhia majestática das Índias. A Europa tem a democracia suspensa. Nós estamos num sistema colonial em que os grandes líderes não foram eleitos: não o foi Lucas Papademos, Mario Monti, Draghi. Esses homens pertenceram todos à mesma empresa. Leia uma carta pungente de um antigo executivo da Goldman Sachs, ao “New York Times”, que sai em ruptura e denuncia o monstro em que se tornou esta empresa. Ela já não cuida dos seus clientes, cuida de acumular capital e poder. É uma empresa colonial que tem poderes de soberania sobre os povos. O poder destas pessoas é assente no modelo de acumulação do capital financeiro. Elas vêem o Estado social, grande mecanismo de distribuição dos rendimentos, como um inimigo. Os impostos, para eles, são anátemas.

Antes de a troika entrar em Portugal, o professor assinou com personalidades de vários quadrantes políticos e sociais uma carta que foi interpretada como um apelo a uma espécie de união nacional para receber a ajuda internacional. Votaria a assinar essa carta?

Essa carta procurava produzir uma alternativa nacional contra a troika e as medidas que se adivinhavam. A carta era provavelmente ambígua para ter esse grande leque de assinaturas, mas defendia em si mesma que a coesão nacional não podia ser posta em causa e que a protecção social tinha de ser mantida, mesmo numa situação de crise. Eu assinei-a pensando que, se nós tivéssemos a força de uma grande união, podíamos ter evitado o pior. Hoje, retrospectivamente, acho que foi uma posição um pouco ingénua porque os dados já estavam todos lançados. O projecto neoliberal estava no terreno. A direita portuguesa, tal como a direita europeia, o que quis fazer foi conseguir através de uma crise europeia aquilo que não obteve por eleições. Isto é a sua grande oportunidade. Vimos isso com Passos Coelho. Ele quer ser mais exigente e duro com os portugueses que a troika, para destruir o modelo social europeu.

Não acha que o problema foi pensar que a crise é igual para todos? A sua posição sobre a crise ou a do banqueiro Ricardo Salgado, que assinou o documento, nunca serão iguais. Mesmo nesta crise, há quem ganhe muito.

O que houve aí foi a expressão de uma tensão que existe no terreno. O documento não expressava um posicionamento anticapitalista, com que eu me identifico. Naquela altura, do que se tratava era da luta do capital nacional contra o capital alemão – de alguma maneira, de uma forma caricatural, aqui representado pelo Álvaro Santos Pereira e o Vítor Gaspar. O nosso ministro das Finanças, Vítor Gaspar, tem passaporte português mas é alemão. Foi criado pelos alemães, foi educado por eles no Banco Central Europeu. Este homem vê o mundo pelos olhos da Alemanha. A capacidade de entidades como a Goldman Sachs vê--se aqui: os seus quadros têm passaportes diferentes, mas pensam exactamente da mesma maneira. Para homens como o António Borges, que é outro caso notável deste tipo de orientação política, não existe uma noção de integridade nacional ou coesão nacional. Quando esteve à frente dos fundos de investimento foi totalmente contra qualquer regulação do capital financeiro. Não admira que agora não possa ter outro tipo de preocupações que não as do capital financeiro no processo das privatizações. Estes quadros formados na Goldman Sachs é que a fazem ser um potentado. Não é por acaso que ela é conhecida como a lula- -vampiro. Oferece dirigentes aos governos em crise, como Monti e Papademos, e quando eles saírem do poder oferece--lhes lugares. Estes homens estão entre o poder económico e o poder político.


2 comentários:

Tintinaine disse...

A troika e a política da senhora Merkel podem levar uma séria machadada se amanhã os socialistas ganharem em França. Se isso acontecer, alguma coisa terá que mudar na Europa. E se mudar afectará Portugal também.
Espero que os líderes da União Europeia saibam entender os sinais e decidam de forma correcta para garantirem o nosso futuro.
O problema principal que está a afundar a Europa é a globalização e é por aí que passa a solução do problema. É preciso fazer marcha atrás em algumas das medidas tomadas pela Europa no que respeita à liberalização dos mercados.
Torna-se necessário implementar medidas de protecção, embora isso desagrade e muito à Alemanha, pois atrapalha as suas exportações. Mas não há outro caminho.
Eu voto Hollande e espero que ele dê o tiro de partida na mudança que já vem tarde!

Edum@nes disse...

Hoje é o dia D, cujas mudanças podem acontecer,
Para uma Europa com futuro
Das boas intenções dos franceses, depender?

Se isso não acontecer
O futuro, ser a desgraça
Às ordens da senhora Merkel obedecer
Mesmo sem terem qualquer graça.

O coelho vai correr
Se ela vitória cantar
Espero Sarkozi não vencer
Para o coelho amassar!

Bom domingo
um abraço
Eduardo.