20 de Maio de 1958, a minha Mãe faz hoje quarenta e cinco anos, o Pai dela e meu Avô agonia no quarto do primeiro andar, eu descasco ervilhas na cozinha, com a porta aberta para o quintal, pois a electricidade ainda era em pó, e o candeeiro a petróleo não dava luz suficiente para ver se aparecia alguma ervilha com bicho, chove torrencialmente e os trovões são com tal intensidade que começa a cair pedaços da velha casa no quarto onde está o meu Avô.
A minha Mãe sobe lá para ver se algum pedaço o tinha atingido, e nesse momento faz mais um relâmpago e trovão em simultâneo, fico encadeado e assustado e corro para junto da minha Mãe Mas não vejo nada e caio nas escadas, consigo subir para junto deles e nesse momento ouvimos gritos na rua era a minha Prima Maria Amélia que corria estrada acima para ir chamar o «Tio» Fernando Dionísio á Igreja do Senhor dos Passos (era o Sacristão) porque tinha caído um raio na casa dele, disse-lhe que ia com ela e assim foi, chegados á Igreja sem fôlego o «Tio Fernando» estava ajoelhado em frente ao altar não havia mais ninguém dentro da Igreja e dissemos-lhe o que tinha acontecido, perguntou se tinha acontecido alguma coisa a alguém da casa, e como respondemos negativamente, ficou onde estava, recebeu a notícia com uma calma que nos deixou de boca aberta.
Saímos direitos a casa dele para ver os estragos, o raio tinha entrado pela chaminé, deu umas voltas pela cozinha, passou junto ao Afilhado dos donos da casa que vivia com eles e que fazia a barba num lavatório que ali estava, passou próximo duma caixa de pólvora que estava em cima dum armário e que teria sobrado da abertura dum poço em que foi utilizado esse material para partir pedras, e voltou a sair, foi descoberto dias depois solidificado como não podia deixar de ser debaixo duma carroça num telheiro no pátio da casa.
Cheguei a casa algum tempo depois para dar conhecimento á minha Mãe dos estragos causados pelo raio, e o meu Avô tinha acabado de morrer.Passaram 54 anos, e hoje vim recordar o acontecido com Vizinhos que partilharam esse dia comigo.
2 comentários:
Passaram 54 anos, mas há histórias de vida que não se apagarão jamais da nossa memória, acabam com essa memória no dia final e que seja bem tarde.
O meu abraço
Amarguras do passados
Que deixaram algumas feridas
Para muitos "desgraçados?"
Ainda, continuam vivas!
Naquele tempo era assim
Muito trabalho e muita miséria
Para uns o mundo era um jardim
Para outras conversas de leria!
Parece querer retroceder
Estão de espadas afiadas
Se oposição não houver
Muitas vidas serão dízimadas!
Boa segunda-feira
um abraço
Eduardo.
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