quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 DE ABRIL, SEMPRE


PARA NÃO ESQUECER

No dia 24 de Abril de 1974, Portugal estava em guerra com Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau tinha declarado a sua independência em 24 de Setembro de 1973, embora Spínola tivesse permanecido no território até Novembro. A independência unilateral da Guiné-Bissau foi imediatamente reconhecida por todos os países da Organização da Unidade Africana, e ainda pela Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, URSS, China e Vaticano. Em Abril de 1974, as três frentes de combate mobilizavam 170 mil militares ao serviço de Portugal (metade desse contingente era de recrutamento ultramarino). A Pide tinha as cadeias a abarrotar de presos políticos. A censura triturava a opinião mais inócua. A Nato estava cada vez mais incomodada com a intransigência de Portugal. Nas Nações Unidas, Washington e os países europeus distanciavam-se de nós, estávamos num beco sem saída.
E assim chegados a este ponto, aconteceu o que não podia deixar de acontecer, o 25 de Abril.

Então comigo foi assim: Saí da Quinta da Figueirinha onde morava, apanhei o meu ajudante «Canócha» junto ás Oficinas da Câmara no Espargal, e dirigi-me como habitualmente ao Despacho das C.R.G.E. junto ao Mercado de Oeiras onde me forneceram a lista com as avarias na Iluminação Pública do Concelho de Oeiras e algumas Localidades do Concelho de Sintra que eram da minha responsabilidade, falaram-me vagamente que tinham ouvido qualquer coisa sobre movimentos Militares mas nada de concreto, como tinha havido á pouco tempo aquela tentativa do Quartel das Caldas da Rainha falhado não dei grande importância ao assunto, julgando eu que não havia grandes hipóteses de vingar qualquer tentativa de derrube do regime, pois vivíamos cercados de Policia Politica, mais os seus informadores, Legionários,  Mocidade Portuguesa que também dava um jeito para a bufaria e etc. etc. etc.

Segui o meu caminho e dirigi-me para Valejas para fazer a primeira reparação do dia: Rua José Basaliza, enquanto o meu Ajudante subia ao poste para verificar a avaria no candeeiro, vem um Morador duma vivenda próxima falar comigo e pergunta-me se não ouvia o rádio, respondi que não  tinha rádio no carro, então vá mas é festejar porque o Governo está por pouco, os Militares tomaram o poder! É pá, isto agora parece ser a sério, o Homem disse que trabalhava nas antenas da Rádio em Porto Alto e que a Tropa tomou conta delas de madrugada, bem sendo assim vamos reparar só este e vamos embora, pois parece que estão a pedir para não saírem á rua, e assim foi, só que em vez de ir parta casa larguei o Victor em Paço de Arcos e por lá fiquei na conversa com os Amigos alguns já munidos do rádio a pilhas para ir ouvindo o que se ia passando,  mais tarde foi a romaria até ás Prisões de Caxias onde fiz um turno de cerca de 24 horas até á saída dos Presos Políticos já ao anoitecer do dia seguinte.

Foram dias, meses e anos de esperança de um Pais mais próspero o que de facto sucedeu, o analfabetismo diminuiu drasticamente, a habitação melhorou, os Bairros de barracas desapareceram quase por completo, a Liberdade de expressão é um dado adquirido, as Ex-Colónias são Estados Independentes, enfim foram criadas as condições para sermos felizes.
Mas eis que agora nos vêm dizer que tudo isto foi uma ilusão, que andámos a viver á grande e á Francesa, e agora temos o País na penúria, e temos de voltar ao 24 de Abril, já nos aliviaram dos subsídios de Férias e Natal, para aprender-mos a não ser gastadores, as casas que comprámos a crédito já as começámos a devolver aos Bancos, (estes é que a sabem toda) aqueles que ainda o não fizeram têm á sua espera um tal de I.M.I. que para o ano os vai obrigar a entregá-las ao Fisco pois são insuportáveis os aumentos previstos, vamos ter novamente os célebres bairros de barracas na periferia das nossas Cidades e Vilas para Turista apreciar, a fome já se faz sentir, a Educação vai retroceder pois muitas Famílias não suportam os encargos com ela, então o que nos resta? A Liberdade de expressão!
Por mim, apesar da nuvem negra que paira sobre nós, digo que Valeu a pena.
Obrigado Militares de Abril.
NOTA:
Morreu ontem um Homem que lutou pela Liberdade quando era difícil fazê-lo, foi preso com quinze anos de idade por discordar do poder instituido, esse Homem é Miguel Portas, que descanse em Paz.


3 comentários:

Edum@nes disse...

Já por aqui tinha passado
Mas encontravas-te na madeira
25 de Abril foi bem pensado
Não para ser usado como brincadeira!

Aquele dia muito desejado
pelo povo português
Pelos novos politico odiado
Sem brio nem altivez!

Foram os ditadores bem vencidos
Com a sabedoria dos militares
Muitos não estão convencidos
São aqueles que só fazem disparates!

Viva o 25 de Abril, viva a liberdade
Viva a gente honesta
Que seja feita a sua vontade
Quem contra este governo protesta!

São Pedro não dormir
Ele está de olhos abertas
O coelho para Alcácer-Quibir
Para os corruptos não entrarem fechem-se as portas!

Um abraço
Eduardo.

António Querido disse...

Há trinta e oito anos atrás, a comunicação social, falava em todo o mundo na coragem do povo português, com a ajuda das forças armadas, terem derrubado uma ditadura com 40 anos de existência, hoje com grande tristeza minha ouvi falar, num país que manda os jovens emigrarem, que deixa os idosos morrerem sós e sem apoio merecido, que vê famílias desempregadas, com filhos para criar e educar, é triste ver um sonho, tornar-se em pesadelo, sem que ninguém saiba como sair dele, só a liberdade não chega, há que fazer muito mais!
O meu abraço

Tintinaine disse...

O 25 de Abril passou por mim quase sem dar por ele. Naquele tempo a minha política era o trabalho. Tinha regressado há pouco da Alemanha, a firma onde arranjara emprego cresceu, de repente, de 200 pessoas para 2.000 e não havia mãos a medir para garantir trabalho a tanta gente.
Para piorar as coisas tínhamos perdido o nosso director geral que foi substituído por um rapazola recém-formado (filho do patrão) que não ia muito à bola com a minha cara. Imagino que fosse por eu ter sido o homem de confiança do seu antecessor.
Com tanta encrenca para resolver nem tempo tive para me aperceber do que estava a acontecer.