segunda-feira, 3 de outubro de 2011

«Serras do Barregudo e de Monte Junto»

Há duas semanas, fui fazer uma caminhada até ao cume da Serra de Montejunto, apreciei as ruínas no local que vão resistindo ás intempéries através dos séculos, e não pude deixar de pensar nas suas origens, e posterior abandono, refiro-me ao que resta de dois Conventos que pertenceram aos Frades Dominicanos, embora um deles ao que se sabe nunca tenho sido terminado, do outro que foi construído por volta do ano 1220, foi efectivamente habitado pelos Frades Dominicanos, tendo sido o primeiro Convento desta Ordem a ser construído em Portugal, terão daí saído para um novo Mosteiro posteriormente construído em Santarém, por razões que segundo uns terá sido a perseguição a que foram sujeitos pelo Marquês de Pombal, e por outras fontes, que terão sido os frios Invernos no local a forçá-los a ir para outras paragens mais amenas, seja como for sobram as memórias em pedra e barro, testemunhos da engenharia civil doutros tempos.

No local existem ainda duas Capelas, a de São João junto ao Convento inacabado, e a da Senhora das Neves paredes meias com o Convento outrora habitado pelos Frades Dominicanos, estas ainda em bom estado de conservação, e tanto quanto julgo saber ambas abertas ao Culto, em especial em dias festivos.
Há ainda no local um Quartel Militar e a Estação de Radar nº 3 da Força Aérea, uns metros mais abaixo a Real Fábrica do gelo de que já escrevi noutra ocasião, (e que parece ter sido construída pelos Frades Dominicanos) portanto façam favor de visitar o local que para além do mais tem uma vista de «encher o olho», ou não fosse o ponto mais alto da Estremadura, só tem um inconveniente, a proliferação de antenas, não sei que autoriza isto, mas não tem pés nem cabeça esta sementeira, sem rei nem roque, com tanto espaço que a Serra tem terá de ser mesmo junto aos Monumentos esta selva desordenada ? a quem de direito.

Esta introdução serve para escrever umas letras sobre o livro do nosso Nobel José Saramago, que tem o titulo «Memorial do Convento» este livro refere  a construção do Convento de Mafra e as razões da sua construção, e é aqui que o Autor se baseia para o titulo do livro, mas o que me chamou a atenção é as várias referências que faz á Serra de Monte Junto que como muito bem se compreende é a nossa conhecida e estimada Serra de Montejunto, local de «aterragem da famosa «Passarola» de Bartolomeu de Gusmão o Frade Voador.

Como se sabe o Convento de Mafra foi mandado construir por D. João V, nessa época viveu cá um Frade Brasileiro de nascimento de seu nome Bartolomeu Lourenço, mais tarde receberia o apelido de Gusmão, este Frade foi o primeiro Homem a «voar» tendo para isso construído ao que se sabe o percursor do Balão de ar quente, ao qual terá dado o nome de «Passarola» aqui entra a ficção de Saramago no livro ao dizer-nos que este terá embarcado na engenhoca com o célebre Baltazar Mateus conhecido por Sete Sois, natural de Mafra e que terá perdido a mão esquerda na Guerra da Sucessão Espanhola, e com a amada deste Blimunda de sua graça, tendo a «Passarola» feito uma aterragem forçada na Serra do Barregudo, ou de Monte Junto, escaparam da morte, e tendo perguntado a um Pastor onde estavam, este terá respondido que aquela era a serra de Monte Junto.

Entretanto o Frade Gusmão desapareceu, Blimunda e Sete Sois bem o procuraram mas nada, regressaram a Mafra mas antes de partirem esconderam a «Passarola» entre ramos de árvores, e várias vezes lá regressaram, para a repararem que o mau tempo não perdoava, até que um dia Sete Sois numa dessas visitas e quando está dentro da dita em obras de reparação vem uma ventania e lá vai Sete Sóis pelos ares, Blimunda que tinha ficado em Mafra e vendo que o amado tardava em regressar vem a Monte Junto á sua procura, munida do gancho que este usava para substituir a mão esquerda que tinha ficado na guerra, e que tinha deixado em casa, chegou já noite á Serra e recolhe-se no Convento inacabado,  já de madrugada sente um vulto aproximar-se que a agarra com intenções inconfessáveis, para se defender espeta o gancho do Sete Sois nas costas do atrevido e mata-o, era o Frade que ela tinha visto á chegada, fugiu dali correndo Serra abaixo sumindo-se na escuridão, e durante nove anos o procurou por todo o Portugal, e diz-se que até Espanha foi. Um dia quando em Lisboa o procura, rompe pela assistência onde na fogueira ardem onze sentenciados pela Inquisição, e entre estes um que não tinha a mão esquerda, era o seu Sete Sóis.
O Frade Bartolomeu de Gusmão terá fugido para Espanha onde terá morrido, ao ser perseguido pela Inquisição acusado de pertencer aos Cristão Novos, e Blimunda, quem sabe. andará por Montejunto na esperança que o seu Sete Sois por lá apareça, quando lá voltar vou ver se a encontro para lhe dizer que não vale a pena procurar mais, que ele partiu  e não volta mais.


Resta acrescentar que Saramago terá conhecido muito bem os locais a que se refere no livro, pois fala de várias Terras que não são ficção, são bem reais, e que se encontravam no percurso que Sete Sóis e Blimunda percorriam quando se dirigiam para Monte Junto nas visitas que faziam á camuflada «Passarola» entre outras refere: Merceana, Val Benfeito, Gradil, Pena Firme, Lapaduços etc.

Para terminar vou fazer aqui uma confissão: nestes quase dois anos que levo de escrita neste e noutro blog, várias vezes tenho referido a minha paixão pela Serra de Montejunto, mas existe uma razão para isso, é que mesmo antes de Saramago nos dizer que a «Passarola» terá aterrado nesta Serra, já eu desconfiava que o destino desta tinha sido aqui, e ao longo dos anos percorri a Serra de baixo para cima e o inverso na tentativa de a encontrar, para com ela fazer uma viagem, já que os aviões são muito barulhentos e assustam-me, nunca acreditei que o Sete Sois tenha partido nela, o que se passou, foi que ele estava farto da Blimunda que era Mulher assim tipo lapa,  que não o deixava respirar, e um Homem não é de ferro para aguentar Mulher 24 horas por dia, e um  dia escapuliu-se para se ver livre dela, mas a «Passarola» lá ficou na Serra, agora desisto de a procurar pois já não tenho idade nem pedalada para andar por ali, sujeito a levar algum tiro de Caçador menos atento, agora que começou a época da caça, e vou dedicar-me á pesca, quem sabe se alguma «passarrola» não dá por lá á costa desgovernada.



      

2 comentários:

Edum@nes disse...

Boa tarde amigo Virgílio,
Mas que grande trabalheira
Andas aí pelo bugio
Procura a sombra de uma azinheira
Para o calor não te castigar
Tiras fotografias ás ruínas
Para mais tarde recordar
As ruínas é um todo
Fazem parte de Portugal
Tira um só fotografia
Que abranja todo o território continental!
Para não termos tanta canseira
O governo nos pouca esforço
Sem dinheiro na algibeira
é um tristeza, na cabeça sem gorro
Para da gripe nos protegermos
De tantas leis sem maneira
Precisamos de um pronto socorro
Para nos livrar de toda esta
Doença certa forma contagioso.

Uma boa tarde para ti,
Viva Portugal, viva a República,
Viva eu, vivas tu, e viva toda a gente.
Um abraço
Eduardo.

Tintinaine disse...

Deve ter havido qualquer problema com o teu blog, pois há muitos dias que não aparecia actualizado.
Agora parece estar tudo normal, embora a última mensagem seja do dia 3 do corrente.
Como não sou fã de Saramago tudo isto é para mim novidade. Um dia destes ainda arranjo coragem para ler um dos seus livros e diz-se por aí que o «Memorial do Convento» é o melhor.