sábado, 15 de outubro de 2011

Nicolau Santos

Pela sua clareza e actualidade mostro aqui um artigo publicado hoje no Jornal Expresso e da autoria do Jornalista Nicolau Santos, com a devida vénia e sem mais comentários.

UMA RAIVA A NASCDER-ME NOS DENTES

Sr. Primeiro Ministro, depois das medidas que anunciou sinto uma força crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes, como diria o Sérgio Godinho V.Exa. dirá que está a fazer o que é preciso. Eu direi que V, Exa. faz o que disse que não faria, e faz sempre contra os mesmos. V. Exa. disse que era um disparate a ideia de cativar o subsidio de Natal.
Quando o fez por metade disse que iria vigorar apenas em 2011.
Agora cativa a 100% os subsídios de férias e de Natal, como o fará até 2013.
Lançou o imposto de solidariedade. Nada disto está no acordo com a troika. Alista de malfeitorias contra os trabalhadores por conta de outrem é extensa, mas V. Exa. diz que as medidas são suas, mas o défice não. É verdade que o défice não é seu, embora já leve quatro meses de manifesta dificuldade em o controlar. Mas as medidas são suas e do seu ministro das Finanças, um holograma do sr. Otmar Issing, que o incita a lançar uma terrível punição sobre este povo ignaro e gastador, obrigando-o a sorver até á ultima gota a cicuta que há-de conduzir á redenção.
Não há alternativa? Há sempre alternativa mesmo com uma pistola apontada á cabeça.
E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse de forma incondicional ao lado do seu povo que o elegeu e não dos credores que nos querem extrair até á ultima gota de sangue.
O que eu esperava do meu primeiro -ministro é que ele estivesse a lutar ferozmente nas instâncias internacionais para minimizar os sacrifícios que teremos inevitavelmente de suportar.
O Que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele explicasse aos Césares que no conforto dos seus gabinetes decretam o sacrifício de povos centenários, que Portugal cumprirá integralmente os seus compromissos-- mas que precisa de mais tempo, melhores condições e mais algum dinheiro. Mas V.Exa. e o seu ministro das Finanças comportam-se como diligentes directores-gerais da troika; e não
  têm a menor noção de como estão a destruir a delicada teia de relações que sustenta a nossa coesão social; não se preocupam com a emigração de milhares de quadros e estudantes altamente qualificados; e acreditam cegamente que a receita que tão mal está a provar na Grécia terá excelentes resultados aqui.
Não terá. Milhares de pessoas serão lançadas no desemprego e no desespero, o consumo recuará aos anos 70, o rendimento cairá 40%, o investimento vai evaporar-se e dentro de dois anos dir-nos ão que não atingimos os resultados porque não aplicámos a receita na integra.
Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar caminho. Até lá, sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes.




4 comentários:

Tintinaine disse...

E não é o Nicolau o único a sentir essa sensação. E isso ficou bem visível nas manifestações de hoje em 9 cidades portuguesas.
A coisa está a aquecer!

Edum@nes disse...

As verdades são para se dizerem. Grande Nicolau Santos é assim mesmo que se fala. Com uma força a crescer-lhe nos dedos e uma raiva acrescer-lhe nos dentes. Mas, há mais, muitos mais.
Aquele ministro das Finanças está a mais, deveria fazer as mala enquanto é tempo, porque avizinham-se grandes manifestações num futuro muito próximo. Provejo isso, porque o povo não deve ficar de braços cruzados à espera que aconteça um milagre, porque ele não vai acontecer.
O que irá acontecer se o povo nada fizer. O governo vai-nos conduzir ao passado, em que muitas pessoas não tinham dinheiro para comprarem um pão. Eu lembro-me desse tempo. Andei descalço até aos 8 anos de idade. Como posso eu aceitar uma escravidão como a que naquele tempos muitas pessoas viviam. Tenha juizinho, senhor primeiro-ministro. Concordo em pagar a dívida, mas de uma maneira mais suave.

Para ti, amigo Virgílio, desejo um bom fim de semana,
Um abraço
Eduardo.

António Querido disse...

Ontem fui convidado, para almoçar em Massamá, ao passar junto à porta do nosso 1º pensei tocar à campainha mas deparei-me com um polícia à porta e como não gosto de confusões, acabei por almoçar a 50 m da sua residência, como é bastante conhecido na zona, mandei pôr na conta dele, nada mau para um domingo em Lisboa, no sábado também não me posso queixar, porque tive oportunidade de dar um abraço ao meu amigo Virgílio e meter a conversa em dia, não deu para a caminhada conjunta, porque não levei equipamento mas fica para uma próxima!
O meu abraço
Páscoa

Fernando Reigosa disse...

Não conhecia este texto. Mas tenho pelo autor uma enorme admiração.
Habituei-me a vê-lo e ouvi-lo em inúmeros colóquios, onde sempre nos espantava com a clareza de raciocínio e a constatação óbvia (depois de o ouvir-mos). Para mais não era especialista (longe disso) da minha área de actividade de sempre, aeronáutica.
Concordo completamente com o ‘desabafo’, e com sua (e dele) licença, vou reproduzir o texto para alguns dos meus amigos.
Curiosidade que provávelmente não saberá; o Nicolau Santos é um dos dois únicos Portugueses da actualidade que sempre se apresenta de laço. Não usa gravata.