sábado, 29 de dezembro de 2012

SILÊNCIO, VOU "CONTAR UM FARDO"





Cada dia que passa me levanto mais cedo, já tinha ouvido dizer que os velhos dormem pouco, pelo que estou a chegar á triste conclusão que estou a ficar com os pés para a cova, hoje ás cinco já estava na vertical, e depois quem é que me segura em casa? lá vou eu caminhar, noite escura em zonas sem passeios, dizem-me que qualquer dia calço um carro, eu respondo que é melhor morrer atropelado enquanto se caminha, (pois é sinal que está em boas condições físicas) e ainda se pode aproveitar alguma peça do esqueleto que não fique muito amarrotada, ao contrário um gajo morre de doença,  até o cangalheiro tem medo de lhe mexer não vá a doença mortal pegar-se-lhe, assim, mal por mal que seja um carro a fazer o serviço, só peço que seja carro que se veja, não um calhambeque qualquer.

Mas esta coisa de ter sono curto ou leve, já vem de longe, e é um dos motivos de não me alargar a fazer noitadas fora do ninho habitual, senão vejam se não tenho razões para não tentar sequer dormir fora depois destas experiências que vivi:
Quando ia á Terra da minha Mulher que fica próximo de Lamego, o Peixeiro, nos anos setenta tocava a corneta uma vez e outra, e repetia a dose logo que ficava sem freguês para aviar, claro que me acordava a cada toque, o gajo ia para o largo fronteiro á casa dos meus Sogros por volta das cinco da matina e ali permanecia tempo infinito, aguenta que é democrático, mais tarde em vez da corneta, começou a levar uma aparelhagem de som, que largava decibéis que se ouviam a 20 quilómetros, aí disse á Patroa, nunca mais aqui pernoito, isto é demais, o Peixeiro que vá tocar para outra Freguesia, se não for ele, vou eu, fui eu.

Quando regressei lá no ano ou anos seguintes demos umas desculpas aos meus Sogros que não sei se acreditaram ou não, e fomos abancar num estabelecimento hoteleiro no centro de Lamego, sitio bem bonito, sossegado, pois parecia, a partir das duas da madrugada começo a ouvir motas a roncar, e a fazer corridas Avenida abaixo, Avenida acima, e eu á beira dum ataque de nervos, queria ir embora mas tinha a Mulher o Filho mais novo dependentes da minha boleia, lá aguentei até ás seis horas, nessa altura sai, melhor saímos, dizendo mal da minha vida e da escolha que tinha feito, para me ver livre do Peixeiro apanhei com estes sacanas que não trabalham e vêm aqui incomodar quem precisa de descansar, foi remédio Santo, nunca mais pernoitei para aquelas bandas.

Noutra ocasião, o «Zé das motas» daqui de Porto Salvo desafia-me a ir passar uns dias á sua casa no Alentejo, na zona de Monforte, renitente sabendo o que a casa gasta lá fui dizendo que não, até um dia! A Filha aparece-me com as chaves da casa, e que agora não podia recusar, para não parecer mal ao Rapaz, etc. então assim seja, lá segui com  Mulher e Filho mais novo, chegado ao local, fiquei maravilhado com tudo o que rodeava a habitação, em especial o silêncio, pudera, era hora de almoço, calor, o Pessoal estava a dormir a sesta, lá se acomodámos, demos uma volta pelas redondezas, chegou a noite! Mulher e Filho vão para  a cama no primeiro andar, eu fico a ver mais um pouco de televisão no rés do chão, quando finalmente o «João pestana» ataca, subo os degraus para o quarto, e no momento que coloco o esqueleto na horizontal, começo a ouvir chocalhos, penso que apesar da hora, seria algum rebanho a passar, mas o tempo ia passando e os chocalhos não se calavam, pois não, aquilo era um curral que havia ali ao lado, e as ovelhas que tinham chocalhos ao pescoço passavam a santa noite abanando o capacete e a música não acabou nunca, resultado: ás sete horas regresso a Porto Salvo, fim de festa.

Mais tarde, como a minha guerra foi mais caseira que o Pessoal da minha geração, não fui a África, e era um Continente que gostava de visitar, mas como não ando de avião, nem de navios, a minha única esperança era fazer uma visita a Ceuta, que fica logo ali ao virar da esquina, e assim aconteceu, combinei com o meu Amigo e vizinho Zé Manel, e com a Família lá partimos com destino a Algeciras, na caravana iam Pessoas que já conheciam os cantos á casa, pelo que fomos pernoitar em local já conhecido e estimado, da companhia, lá foi cada qual ou quais para os seus aposentos, e cá o Rapaz quando o «João Pestana» se aproxima a passos largos, começo a ouvir o som caracteristico de elevadores no sobe e desce, ó raio, não me digam que vou ter esta geringonça toda a noite aqui para cima e para baixo, a minha Mulher começa a ver a minha agitação, e só diz. ó Homem tu não te vás levantar, é uma vergonha o que é que os vizinhos vão pensar? que és maluco, e mais isto, e aquilo!  Eu levanto-me, já deitando fumo pelas orelhas, e vou a caminho da rua, o porteiro quer saber o que se passa, que me arranja outro quarto, etc. mas eu já não quero conversas, e ando quase toda a noite por Algeciras, qaundo já estou quase K.O. meto-me dentro do carro e adormeço, e é assim já com o Sol a brilhar que o meu Amigo Zé Manel me encontra, regresso na sua companhia ao convívio dos restantes companheiros de viagem, tomo banho e pequeno almoço, e lá seguimos para Ceuta, nessa noite fomos dormir a Tarifa, e aí sim, já nada me acordava tão moído tinha ficado, viagens, noite em branco, dormi como um Frade Franciscano depois duma grande caminhada, com aquelas sandálias mal alinhavadas, que usavam outrora.
 
A minha casa na Terra é numa rua estreia onde os as propriedades de um e outro lado da rua quase se tocam como podem ver numa foto, acontece que o telhado da minha casa fica ao nível dos quintais dos Vizinhos, agora vejam o que é um cão de grande porte, a ladrar dia e noite a meia dúzia de metros da vossa cabeça, é dum gajo dar em doido, aqui já não se tratava de desopilar para outro lado, tinha de aguentar, até que a consciência tocasse nem que fosse ao de leve nos proprietários do bicho, ou as Autoridades ajudassem, no caso dos primeiros se estarem-se borrifando  para a vizinhança, entretanto gastei dinheiro no isolamento do sótão, fiquei com os nervos em franja, até que as Autoridades finalmente fizessem o que tinham de fazer, este foi o caso mais complicado de todos, pela simples razão que não podia abrir mão daquilo que me pertencia, embora estivesse perto de isso acontecer.
 

Agora para terminar este aperitivo de fim de ano, quem teve  paciência para ler isto tudo e chegar aqui ao final perguntará? mas a que propósito vem este paleio todo? a resposta é: como estamos a chegar ao fim deste ano da desgraça de 2012, e como estou convencido que vão chover convites para a passagem do Ano, é para dizer que não vale a pena esforçarem-se para me convidarem, só aceito convites para Resort de luxo, em Ilhas  Atlânticas, onde o silêncio é de ouro, ou fazendo eu algum esforço ainda estou tentado a  aceitar um Fim de Ano no Resort do Dias Loureiro em Cabo Verde, mas só desta vez, portanto venham os convites, mas não abusem.
FELIZ 2013
 

7 comentários:

António Querido disse...

Hé pá só agora descobri o mal que fiz a muita gente quando acabei a primária, é que vendia pão em cima dum burro branco e tocava a corneta logo de madrugada para me comprarem o pão quente antes de irem para o trabalho, mas nunca fui corrido à pedrada nem ninguém se queixava, quando chegares ao Risot do Dias Loureiro, diz-lhe para nos vir pagar o que nos deve, com juros a 50%!
FELIZ ANO NOVO, sem cornetas, nem Troikas.

Edum@nes disse...

Canta lá que eu quero ouvir
Lá no campo as ovelhas a pastar
Com os políticos o país a destruir
Para o ano, que vem aí, vai piorar!

Pois é verdade
Tanto paleio, que vale a pena ler
Com a tua sinceridade
Não aceites convites para um lugar qualquer!

Ali para os lados de Torres Vedras
Terás convites com fartura
Vai pela estrada, não te percas
Não te metas em grandes aventuras?

Feliz novo ano para ti e para tua família, são os meus sinceros de desejos.
Um abraço
Eduardo.

Tintinaine disse...

Se nos servisses estas histórias aos bochechos e com um pouco mais de floreado tinhas assunto para um mês inteirinho.
Numa das fotografias parece-me reconhecer a Câmara de Oeiras. Será?
E noutra está escrito Avões. Trata-se por acaso de Ferreiros de Avões, em Lamego?
O Francisco Veiga, filho da minha escola era dessa terra. Se a tua mulher era de lá e têm quase a mesma idade eles devem conhecer-se!
Hás-de perguntar-lhe.

Unknown disse...

Bom gosto não te falta..Cabo Verde com Dias Loureiro ...
Boa sorte, bom ano novo e vê lá se descansas mais senão um dia destes acordas com o dormir da família em casa...

Observador disse...

Respondendo ao Tintinaine
É uma Câmara mas não é a de Oeiras, é de Lamego, passando junto a esta e seguindo a estrada que vai para a Serra das Meadas, mas não virando á esquerda para esta, mas seguindo em frente vais ter a Avões de Cá, a seguir Avões de Lá, e estamos na Terra da minha Mulher, aqui vivi algum tempo, após o que desci até Lamego onde também estive um certo período da minha vida.
Agora ao Páscoa, também fui padeiro e vendedor de pão ao domicilio em Paredes de Alenquer, mas na minha zona só usavam corneta os Peixeiros, os Padeiros era a plenos pulmões que apregoavam o seu produto, também usava um burro com um ceirão ás costas, (dele do burro) como vez passámos por «guerras» idênticas.
Um abraço, e um 2013 cheio de coisas boas para todos.
Virgilio

Valdemar Alves disse...

O vídeo é talvez uma das melhores interpretações do Silêncio... Quanto a cornêtas fêz-me lembrar os clarins da Briosa e também... Quem não se lembra "dos amoladores de Lisboa" chamando a clientela com um pífaro... Uma figura típica da cena lisboeta que junto com varinas e marujos desapareceram para sempre.

Laranjeira disse...

Olá Virgílio:
Desejo-te um bom ano novo em todos os seus aspectos extensivo à tua família.
Um abraço
Laranjeira