quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O REGRESSO DA FOME


Nasci e cresci numa época de vacas magras, um nome pomposo para não dizer que vivi parte da vida num Portugal de miséria, assim era nas décadas de cinquenta, sessenta, e setenta do século passado, quem tinha coragem emigrava, sim era preciso coragem porque a emigração era quase toda ela ilegal e portanto quem queria aspirar a uma vida melhor, por norma ia de salto como se dizia na altura, e nesse tempo havia uma coisa que se chamava Fronteira, a abarrotar de P.I.D.E. e Guarda Fiscal, quem por esta ou aquela razão por cá ficava, sujeitava-se á política de baixos salários, aos patrões que ficavam com os descontos do empregados e não os entregavam á segurança social, ás perseguições politicas se por acaso se lembrasse de reclamar de alguma ilegalidade que sofresse, um Pais com três frentes de guerra, um caldo perfeito para sermos o mais atrasado da Europa, há! e havia fome, que regressou agora e em força.

Novos pobres. A classe média portuguesa passa fome

Com o golpe Militar que derrubou a ditadura, as coisas começaram a melhorar, diria que em todos os aspectos, juntámos-nos á Europa que antes não nos cria ver nem pintados, vieram rios de dinheiro dos Países mais abastados, diziam-nos que para melhorar as nossas estruturas produtivas que não se coadunavam com a dos nossos parceiros, a partir desse momento foi como se tivesse descoberto a árvore das patacas, soltou-se o rebanho que até aí pastava calmamente pelas pastagens de São Bento, e espalham-se por todos os cantos onde lhe cheirava a dinheiro fresco, o Pais encheu-se de orgulho, cada dia que passava nasciam auto estradas, pavilhões desportivos, centros de congressos, piscinas municipais, passeios para os Velhinhos, para os Novos e para os Usados, toda a minha Gente percorreu o Pais de lés a lés, com direito a pequeno almoço, almoço, jantar e pernoita, qual casa do Marujo onde os percevejos eram a melhor companhia, ali eram Hotéis, Termas e afins, enfim uma ementa de fazer inveja ao Bill Gaitas.

Há pelo menos 300 mil pessoas a passar fome em Portugal

Mas como as percentagem recebidas dos empreiteiros que executavam essas obras não davam nem para o tabaco, vai de arranjar empresas Municipais, Fundações Bancos á medida do cliente, e tudo o que rendesse mais uns cobres para os bolsos destes rapazes ávidos de arranjar o seu pá de meia antes que a coisa desse para o torto, ou mais remotamente que os Portugueses acordassem desta amnésia que lhes tolhe os movimentos, ao mesmo tempo determinava-se a morte e consequente  funeral das Pescas Agricultura e Industria porque os outros Países traziam-nos esses bens, e mais baratos, e nós podíamos passar as tardes, manhãs e noites no bem bom, agora que entrámos na moeda única, o famoso  Euro, não nos vai faltar nada, Portugal é o Eldorado.
De repente, sem aviso, dizem-nos que aquilo foi tudo um triste engano, que nós não podemos andar a viver acima das nossas possibilidades, porque não produzimos, acabámos com a Indústria, Agricultura e Pescas, mas foi um terrível engano dos governos, e errar é humano, e foi tudo para o bem do País, nós é que nos portámos mal.

Idosos: 40 mil passam fome em Portugal

Então e como vamos sair desta? meus Amigos, vamos fazer mais uns furos no cinto, todos sabemos que essas doenças modernas, como a diabetes ou o colesterol, têm quase sempre origem nos excessos alimentares, por isso vamos todos, sem fazer grandes ondas uma dieta rigorosa, os nossos amigos políticos que se enganaram também estão a sofrer na pele, como se pode comprovar pelo nosso Presidente que até já se queixou publicamente que os fracos rendimentos usufruídos não lhe chegam nem para o pitrol, portanto meu Povo, nada de reclamações e muito menos manifestações, sabem que o falecido António da Calçada aguentou quase cinquenta anos no poder porque não autorizava essas modernices, e se não tivesse caído da cadeira podem crer que ainda hoje lá estava em São Bento, do mal o menos, pelo menos sabíamos com que contávamos, digo eu. 
 
 
 

5 comentários:

António Querido disse...

Os subsídios que estão a dar a jovens a poderem trabalhar, dava para matar a fome a todos os idosos! Como diria o nosso amigo Artur,(tenho dito)!
Aqui fica o meu abraço

Laranjeira disse...

Estas notícias,infelismente, levou-me a recuar e a mergulhar no tempo da minha infância de má memória,ou melhor, no tempo do regime político do estado novo,onde filas de pessoas doentes, esfarrapadas e descalças, imploravam com rezas junto ás casas dos senhores poderosos e ricos, pedindo uma "migalha de pão",ou uns tostões.
Laranjeira

Valdemar Alves disse...

"O salto" era sem dúvida umas das poucas opções da época, dando origem a uma das mais negras páginas da nossa História... Núcleos de portugueses vivendo em Bidonvilles de Paris. Só em Champigny 60% dos portugueses eram clandestinos vivendo em condições que nem lembra ao diabo... Porém em 1972 (altura em que fui para França) já existia na Rua Conde Redondo o Serviço Nacional de Emprego que encaminhava os emigrantes para os países europeus de uma maneira mais humana... Lembro-me de ter ido a uma inspeção médica na Estrela e ser-me dado um bilhete de comboio com destino a Mulhouse... Passado um mês já estava de volta a beber uma bica no Campaínhas-Martim Moniz.

Tintinaine disse...

Ainda bem que pegas no assunto com muito humor, porque triste já ele é.
Nós, os mais velhotes, já estamos com os pés para a cova e aprendemos a poupar uns tostões para os dias mais difíceis e não seremos grandemente afectados por esta desgraça.
Mas a rapaziada nova, sem experiência, sem trabalho e sem dinheiro vão amargar de certeza. Se os pais não tiverem posses para lhes dar uma mesada, não sei como isto vai acabar. Emigrar, roubar ou viver como sem abrigo são as opções que me vêm à cabeça e nenhuma delas é boa.
E o pior de tudo é que o nosso governo ainda não decidiu interromper o regabofe. A prova disso é que os ricos continuam a ficar cada vez mais ricos, enquanto os pobres ficam cada vez mais pobres. E não há político que não saia do governo com a conta bancária bem recheada ou um bom tacho para o resto da vida.

Edum@nes disse...

A fome é sempre para os mesmos
Os ricos deitam para o lixo
Políticos sem preconceitos
Piores que a madeira ruída pelo bicho!

Ele fazem que bem entender
O povo fala, mas nada resolve
Prometem que vão o povo defender
Mas que paga seus ordenados é o pobre!

Cada político um vigarista
Que só aprendeu a roubar
Manda bater no povo a polícia
Do Parlamento não se podem aproximar.

Levam porrada até fartar
Por defenderem seus direitos
Querem ao tempo de Salazar
Os bandidos, actuais governos!

Bom fim d semana para ti, amigo Virgílio,
Um abraço
Eduardo.