sábado, 2 de fevereiro de 2013

OBSERVANDO E RECORDANDO

Diz-se que o Homem (ou a Mulher) é Criança duas vezes, não sei em que se basearam para chegar a esta conclusão, mas lá que acertaram, não tenho duvidas, pois cá o Rapaz já vai na sua segunda infância, da primeira poucas recordações me restam e ainda bem, não eram grandes recordações com certeza, desta segunda aí sim, tenho algumas recordações, nem sempre pelas melhores razões, mas enfim tudo somado, dá uma mão cheia de asneiras.
Vem isto a propósito duma molha que apanhei hoje, por ter acreditado no Instituto de Metereologia que me prometia bom tempo, isto é mesmo de quem ainda acredita no Pai Natal.

Fui fazer uma caminhada saindo de Paço e Arcos até Caxias e volta, e quando ia a chegar junto do falecido e badalado Restaurante Mónaco, começa a cair água que até os cães a bebiam de pé, sem local próximo onde me resguardar já se vê que tomei duche antecipado, mas um Marinheiro não se assusta com água, seja muita ou pouca, e lá continuei, no regresso sempre junto á Estrada Marginal, passei junto aos Fortes de São Bruno e da Giribita, neste último, e no tempo da outra senhora, era local de festa rija do Almirante Tenreiro e sua corte, tinha guarda privativa (paga pelo orçamento do Estado claro), e vivia dentro do Forte um antigo Marinheiro, que corria com quem se aproxima-se deste, eram ordens do Almirante dizia ele, questionado sobre a legalidade da ordem, respondia, quem manda é o Almirante, e se não vão embora chamo a Policia, contra factos não há argumentos já se vê.

Nesse tempo havia escadas em pedra construídas quando da construção da Marginal que permitiam que se descesse para a pequena praia com segurança, até junto ao Forte, quando a maré estava vazia, eu como outros pescadores desportivos, gostávamos do local porque se apanhavam uns sargos e uma fanecas, mas mal nos descuidávamos tínhamos o amigo Mário (assim se chamava o guarda permanente) á perna, quando eu estava sozinho, e se fosse dia, ele não me chateava, de noite como todos os gatos são pardos, lá vinha ele ao terraço apontar a lanterna e gritar, que não podia estar ali, é claro que eu fingia que não percebia, obrigava-o a descer e vir junto a mim, só me reconhecia quando chegava perto, já tinha alguma idade, e a vista já não era o que foi, então saía-se com esta! ai és tu filho da Escola, (era e é,  a maneira como os Marinheiros se tratam entre si), acabávamos ali na conversa ás vezes até ás tantas, contava-me então as farras que se viviam no Forte, tudo a bem da Nação. O velho Marinheiro Mário acabou por morrer atropelado na Estrada Marginal.
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Esta recordação, vem a propósito do branqueamento que muitos tentam fazer do Salazarismo, que nesses tempos não havia compadrios, era tudo gente séria, que os gatunos surgiram todos por obra e graça do 25 de Abril etc., aquilo que há de novo na nossa Sociedade não é sobre a qualidade dos Portugueses que metem ou meteram a mão na massa, o que aumentou foi a quantidade deles, também aqui a Democracia chegou, e passou de ser criticável roubar, para elogioso fazê-lo, noutros tempos quem roubava  era ladrão, agora quem não rouba é parvo, portanto é tudo uma questão de estilo, porque o arranjanço foi sempre uma marca nossa, no tempo do tio «António da Calçada», havia os protegidos como há hoje, bastava pertencer á A.N.P. o Partido dele para ter tudo, e acesso a tudo e mais alguma coisa, quem não tinha direito a nada eram os outros, ou porque eram do contra, ou porque suspeitavam que fosse, o que tinha mais certo era uma dose de porrada da P.I.D.E., porque Sr.s Mários era o que havia mais por aí, prontos a lamber as botas do chefe, e no limite, denunciar quem não o  bajulasse, outros tempos, a mesma  gente.

4 comentários:

Tintinaine disse...

Antigamente havia muitos Mários, é uma verdade, mas muitos deles não sabiam sequer o que era política. Faziam o que faziam do modo que tinham sido ensinados.
E a vida nesses tempos não era fácil para ninguém, a batalha da sobrevivência tinha as suas prioridades.

Valdemar Alves disse...

Ladrões sempre houve e sempre haverá... Só que no Tempo do Salazar havia menos, porque havia mais policiamente e portanto menos oportunidades. E depois bastava alguém gritar "Ò da Guarda!"... Agora não, "o gamanço" passa suavemente pelas malhas da Democracia e fica tudo em àguas-de-bacalhau... É um facto que nunca nos iremos livrar "de gatunos" mas certamente que será possível controlá-las com latas de DUM-DUM... Ou melhor dizendo COM JUSTIÇA!

Albertino da Costa Veloso disse...

Lambe-botas, sabujos, corruptos e gatunos sempre houve - como hoje - neste antro. A diferença desses tempos para hoje é que no período áureo da ditadura não era permitida a divulgação das canalhices praticadas, enquanto que agora, à sombra de uma pseudo democracia, tudo se sabe e se diz, às vezes até com empolamento bacoco.

António Querido disse...

Rematas muito bem as histórias que nos contas, "outros tempos a mesma gente", é verdade, basta que para isso visitemos um qualquer mosteiro, convento, ou uma nobre residência antiga para comprovarmos as diferenças dos aposentos de suas Excelências que davam ordens e daqueles que as recebiam e trabalhavam, sempre foi assim, só que agora, com a nova e moderna democracia, somos nós quem elege aqueles que roubam milhões, se metem a milhas, sem que nada de mal lhes aconteça porque são eles que fazem as leis e ainda se riem dos desgraçados que cá ficam a pagar as favas.