Eu já tinha alertado que as coisas ainda iam acabar mal, e assim aconteceu, o Vicente ontem despencou mesmo por um silvado quando mais uma vez tentava apanhar amoras, mas vamos ao principio.
A semana passada andei acelerado, praticamente não parei, entre regas na Terra, caminhadas por aqui e ali, pinturas na casa, foi um ver se te avias., isto é o único remédio conhecido para não me deixar levar pelo pessimismo, quando paro, a coisa fica logo «preta», é mais ou menos como os pneus dos carros de corrida, quando arrefecem perdem aderência, e assim para não arrefecer iniciei esta semana também em marcha acelerada, ontem no fim do almoço, que com-partilhei com a Patroa, Filhos, Nora e Netos, arranquei para a Terra para regar os tomates do Agostinho, que já tinha entretanto chegado de férias, mas veio lesionado das costeletas, pelo que não era aconselhável tirar água a balde do poço, assim reguei, e pelas sete da tarde chegou o meu Camarada de caminhadas Vicente que tinha chegado de Peniche onde foi passear com a Esposa.
Como não podia deixar de acontecer, lá fomos fazer a nossa caminhada, não sem antes a Esposa o ter avisado para ter cuidado com a apanha das amoras, aviso esse extensivo cá ao Rapaz, para ter cuidado com ele, porque por amoras ele vai até ao fim do mundo se preciso for, partimos com destino á Várzea, mal sabia eu, que ele já tinha andado a sondar um local onde havia destes frutos silvestres de tamanho muito generoso, só não as tinha apanhado por manifesta falta de comprimento dos braços, mas desta vez veio prevenido com um gancho, um cordão, e uma cana que apanhou no local, munido desta espécie de cana de pesca, ei-lo todo satisfeito a caçar estes belos frutos, mas muito próximo da vala que estava dissimulada pelas silvas, ainda o avisei para não se chegar muito á frente, mas não foi suficiente o aviso, e lá vai o Vicente pelas silvas a caminho do fundo da vala.
Aquilo até arrepiava, com picos por todo o lado, como é que vou tirar o Gajo do buraco? disse-lhe para não se mexer, pois cada movimento é mais umas ferroadas no cabedal, e lembrei-me que tinha visto no quintal do Ti Manel da Teresa ali logo ao lado umas varas, que tinham servido em tempos para estendal da roupa, dei lá uma corrida e em três tempos lá estava eu de pau estendido buraco abaixo para socorrer o «pobre» do Vicente que parecia um Cristo, tantos eram os arranhões que nem tive coragem de o fotografar, disse-lhe que era melhor voltar-mos para casa, e desinfetar os arranhões, mas qual quê, vamos em frente que isto não é nada e ainda tenho que comer muita amora até ao fim do dia, assim se fez, fomos até á Quinta do Lança, subimos até aos Casais da Fonte Pipa, e daqui até Vila Verde foi um pulo, aqui chegá-dos já noite, fomos até minha casa onde lhe mostrei umas fotos do antigamente que tenho no computador, despedi-mo-nos até breve, e não faço ideia como foi a recepção da Luzia quando ele chegou a casa naquele estado, e ainda bem que a época das amoras está no fim.
Entretanto na caminhada, e a pedido de diversas Famílias, e do Tintinaine em particular que pretendiam saber mais sobre este personagem que desde o ano passado me faz companhia nas caminhadas, aqui vão algumas notas: Nasceu e foi criado na minha rua, brincámos, estudámos e crescemos juntos, trabalhou no campo até ao Serviço Militar, no cumprimento deste foi como a grande maioria dos Jovens desse tempo para a Guerra em África, concretamente Angola, onde tirou a carta de condução, chegado á vida civil ainda andou uns tempo na Terra, trabalhando no campo, conduzindo tractores e camionetas.
Casou, e emigrou para os Estados Unidos para onde foi trabalhar numa fábrica de plásticos, mas por pouco tempo, após o fecho desta no período do Natal foi-lhe dito que já não havia trabalho, estava a começar mal a aventura, mas não desanimou, em conversa com o nosso conterrâneo Zé do Talho, também ele Emigrante nos States e dando-lhe conta do fim do trabalho, logo este lhe arranjou trabalho para a fábrica de papel onde trabalhava, viu esta crescer, dos trinta e poucos Trabalhadores que tinha quando entrou, para os 3.200 no seu apogeu, com filiais em diversos Países, chegou a responsável na sua área de trabalho, fez-se accionista, aposentou-se após mais de trinta anos na casa, com um Filho Homem nascido e criado nos Estados Unidos, com os Sogros cá, tem passado os últimos anos cá e lá, na tentativa (conseguida penso eu) de dar apoio aos dois lados.
Mas acredito que não era isto que o Tintinaine mais queria saber, acredito que estaria á espera de algumas "historias cabeludas" mas não há, o Vicente é um Rapaz muito bem comportado daqueles que não mijam fora do penico, mas ainda assim aqui vai uma história inocente onde ele deu uma mão, e eu provavelmente as duas.
Fazíamos grandes patuscadas na casa da «D. Piveta» nome que nós inventámos para a casa que era do Graciano hoje do nosso Amigo Eusébio, eram coelhos ou galinhas que roubávamos ás nossas Mães, eram caracóis que apanhávamos, enfim tudo servia para fazermos uma festa, um dia, o que é que se havia de lembrar o Vicente e companhia? É pá anda aqui um gato sem dono, que só faz estragos nas nossas capoeiras e coelheiras, se o matássemos e convidasse-mos aí o Pessoal mais velho para o comer dizendo que era coelho? dito e feito o problema era que, a cabeça que do gato é diferente da do coelho e eles desconfiam, não há problema disse o meu primo Zé Carlos, a minha Mãe matou hoje um coelho e lá em casa ninguém gosta da cabeça, assim foi buscar a cabeça do coelho a casa, num tacho coelho, noutro gato com cabeça de coelho, quando o acepipe ficou pronto convidaram-se três Amigos bastante mais velhos que nós para o repasto, destes apenas um está vivo, não digo os nomes para não ferir susceptibilidades, na mesa foi propositadamente colocado do lado dos convidados especiais o gato, no outro lado o coelho para os que sabiam da marosca, depois de comidos e bebidos, (que diga-se o gato foi mais elogiado que o coelho), há um dos que sabia da marosca e começou a miar, foi o fim da picada, aquilo só não acabou em pancadaria graças a um dos convidados mais ponderados que deitou água na fervura, pois um deles fervia em pouca água fez um pé de vento que só visto, mas acabou tudo em paz, com vêm uma história inocente.
5 comentários:
Essas amoras são das silvas
Os medronho do medronheiro
Se não estiver certo que o digas
Tu que já foste Fuzileiro!
Entrevista e reportagem
Tu tens jeito e habilidade
Não tenha medo da viagem
Nem nunca digas não à liberdade!
Com fome, viver sem ela
Pedes pão para comer
Levas cacetada
Para a boca calar aprender!
São as ordens da canalha!
Depois de uma semana acelerada
De um para o outro lado
Lá na terra deixaste a casa pintada
Não andes por aí muito a te agitar
Lá na aldeia ouvir de madrugada
No poleiro o galo a cantar!
Falas na morte do coelho
Esse que teve menos sorte
Não estava de férias na Foz do Arelho
Como aquele que foi para o sul, fugido do norte!
Coelhos e raposas
Ambos são matreiros
Coelhos e mantas rotas
Nem segundos nem primeiros!
Boa segunda-feira pata ti, amigo Virgílio.
Um abraço
Eduardo.
São formidáveis as tuas histórias, desde aquela de regares os tomates do vizinho, em vez de regares os teus!
Estenderes o pau para puxar o teu amigo em apuros, é que eu nunca estendi o pau para esses fins!
Depois vem a do gato com cabeça de coelho, conclusão: És divertido, do princípio ao fim do teu texto, continua com essa boa disposição!
O meu abraço
O pobre do Valdemar não está em condições de partilhar connosco estas histórias e rir-se um bocado com elas. A sorte foi-lhe madrasta.
Mas se estivesse iria com certeza relembrar o gato que ele e os amigos da paródia cozinharam em Metangula. Com a diferença que ele comeu também para provar que os tinha no sítio.
Quanto à história do Vicente, eu estava mais à espera de ouvir episódios sobre a sua adaptação à língua dos camones, se já se tinha esquecido do português e fala como os emigrantes que estão em França, etc., além da explicação pela sua predilecção por amoras.
Mesmo depois de cair na vala e se ter picado todo, por certo não vai perder a ideia de as continuar a apanhar.
Ah grande Vicente!
Tintinaine
Não estou agora com ele para lhe fazer as perguntas ás tuas questões, mas posso referir que não fala com aqueles tiques que todos conhecemos de misturar Inglês ou Francês com o Português, aprendeu julgo que o Inglês suficiente para se safar, mas de vez em quando falta-lhe a palavra certa na nossa língua, foram muitos anos a virar frangos com os Camones, e ás vezes falta-lhe a palavra patina um pouco até lhe sair a palavra certa.
Já a paixão por amoras, deve ter vindo do berço, deve ser daquelas coisas sem explicação, eu por exemplo, sou mais virado para outro tipo de fruta, a fruta seca, e também não sei explicar porquê.
Um abraço
Interessante este último comentário do Virgílio... EU, com quase 40 anos fora do país MISTURO (e não é pouco) o inglês com o português... Faço-o inadvertidamente e sem intenção mas algo para a maioria dos portugueses imcompreensível... Ou seja, por muitos anos de estranja nunca chegarei a um verdadeiro SMITH, mas também nunca mais poderei encarnar de novo o Fuzileiro 1766/68 que o fui... Triste sina a dos emigrantes!
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