segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Moçambique

Hoje escrevo aqui umas letras só para introduzir o artigo que Margarida Rebelo Pinto publicou no Jornal «O Sol», e penso que faz todo o sentido aqui mostrá-lo, pois o blog é visitado por alguns Amigos que estiveram em Moçambique e embora em situação de Guerra não se cansam de falar (bem) deste Pais, e apesar de lá terem saído há mais de quarenta anos nota-se a sua grande paixão por esta Terra e pelo seu Povo, por mim que nunca lá estive, sinto-me contagiado. Então leiam e fiquem bem.




Os paraísos servem-nos para esquecer que o resto do mundo existe ou para nos lembrar que o mundo pode ser um lugar melhor? Depois de uma semana em Moçambique, onde visitei Maputo e as belas ilhas do Bazaruto e de Santa Carolina, regressei de África com a sensação de ter visitado uma outra face da terra.

Por mais filmes que se vejam, mais livros que se leiam, por mais documentários e notícias que nos passem debaixo dos olhos, África só pode ser absorvida, entendida e sentida in loco, com as suas cores e os seus cheiros, a sua beleza e a sua miséria, a sua música e a sua magia, a sua imensidão e as suas gentes. Foi preciso ir a África para finalmente perceber a nostalgia incurável, qual malária do coração, dos que lá nasceram, cresceram ou viveram, e que a descolonização obrigou a uma partida forçada.

O que mais me tocou em Moçambique foi o povo moçambicano: educado, afável, tranquilo, feliz. Apesar da miséria, apesar da fome, apesar das doenças, apesar de tudo. África é um continente sem filtro; tudo se vive à flor da pele e em carne viva. E tudo é brutal, seja o belo ou o horrendo. Mas os moçambicanos possuem uma doçura que deve ser só deles e que me conquistou para sempre. Viajei para lá contente e regressei feliz. Fui leve e voltei ainda mais leve.

À parte do clássico episódio da intoxicação alimentar, tive uma viagem de sonho, não só pela beleza de tudo o que vi, pela forma como fui tratada. Os empregados do Pestana Lodge no Bazaruto já sabiam o meu nome desde o segundo dia e quando foi preciso tratar da maleita, fizeram-me canja, maçã cozida e não descansaram enquanto não me viram outra vez com cores na cara. Ora este tipo de atenção não está incluído naquilo a que chamamos serviço de luxo. Um calor genuíno fez-me pensar como nos relacionamos com os outros, independentemente daquilo que eles nos possam dar em troca. Uma atitude generosa gera quase sempre generosidade do outro lado. A paz puxa a paz, a bonomia puxa a bonomia, a empatia gera empatia.

Não sei quando voltarei a África nem sequer se o que lá vivi perdurará na minha existência, mas tenho a certeza de que aprendi mais do que penso, de que vi mais do que acredito ter visto e de que guardei mais do que agora me lembro. O que eu sei é que me ficou na pele aquela forma de ser e de estar moçambicana, os sorrisos que dão a volta à cara toda, as músicas entoadas nas carrinhas de caixa aberta que atravessam a cidade ao fim-de-semana com dezenas de homens e mulheres a caminho de um casamento, a alegria natural e espontânea que nunca pode ser fingida nem fabricada. Há muito amor em Moçambique. Muito amor e muito prazer, apesar da fome, apesar da miséria, apesar de tudo.

Margarida Rebelo Pinto - no : "O SOL"
E agora a minha homenagem a dois grandes Moçambicanos
João Maria Tudela e Eusébio da Silva Ferreira, este último que tanta falta tem feito ao Glorioso, que nunca mais acerta o passo.



2 comentários:

Tintinaine disse...

Tenho no meu álbum de fotografias aquela em que se vê a costa montanhosa do Lago Niassa na zona a norte de Meponda.
Todos os militares portugueses que prestaram serviço nas margens deste lago e viajaram nas lanchas da Marinha reconhecem esta imagem mal lhe ponham os olhos em cima.
Logo que a lancha zarpava de Meponda em direcção a norte era esta a paisagem que deslizava perante os nossos olhos até muito perto de Metangula, onde as serranias davam lugar a uma planície enorme que era o paraíso dos porcos do mato. Muito corri atrás deles mas nunca apanhei nenhum.
Concordo com a Margarida quando afirma que a África nos entra pelo corpo adentro e nunca mais deixa de nos circular nas veias. Especialmente quando se trata de Moçambique!

António Querido disse...

A SrªMargarida Rebelo Pinto, sentiu tudo isto numa passagem rápida e eu não duvido, agora imaginamos dois anos e meio a desfrutar de todas e mais algumas destas maravilhas que Moçambique e as suas gentes nos oferecem!
É encantador, contagiante, um Amor que fica para sempre no nosso coração, benditos Fuzileiros que me levaram até lá!