sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"FOBIAS? TALVEZ"

Pois é, ao fim de quase setenta anos cheguei á conclusão que estou infestado de fobias, assim, só como aperitivo diria que tenho fobia andar de avião, Aerodromofobia, a sons acima 50 decibéis, Acusticofobia, também não vou com multidões (mais de 4 Pessoas) Agorafobia, e muitas mais que seria fastidioso estar aqui a enumerar, perguntarão a que propósito venho eu falar sobre as minhas manias, então a resposta é esta; Em primeiro lugar porque me parece que a coisa se pega, é portanto contagioso, e não pretendo «infectar» ninguém, em segundo e não menos importante é que só agora cheguei á conclusão que isto é doença, e não mania como pensava, não só eu mas os que me rodeavam, ou rodeiam, passo a explicar:


Nasci grande, mas não o suficiente para me recordar dessa época, mas a partir do momento em que assentei praça na Escola Primária, (onde me doutorei  em fugas) aí já começo a recordar as fugidas daí, mas mesmo que não recordasse, há quem se recorde bem disso e que faz questão de mo recordar, para quem presenciava isto apenas dizia que o rapaz era maluco, incluindo a Família, apesar  dessa instabilidade, e das fugas ás aulas, fiz a quarta classe nos quatro anos da praxe, portanto o que ficou foi o resultado, afinal o gajo é maluco, mas até é inteligente, pois fez a quarta classe sem perder nenhum ano, isto com a idade vai ao sitio, era o diagnóstico que me faziam, e o remédio para a cura, a idade!

Segue-se de imediato o primeiro trabalho, vendedor de leite de porta em porta, em Alenquer, Sol de pouco dura, a instabilidade veio para ficar, regresso a casa, trabalho na Agricultura, aí curiosamente ou talvez não, aguento, até sou mimado pelo caseiro e colegas mais velhos, mas a enxada não era propriamente aquilo com que sonhava, vou para padeiro nas Paredes de Alenquer, vou e volto por três ocasiões, só estou bem onde não estou, noto que a rua é o meu local de eleição, ando atrás do jerico a fazer a venda do pão, e estou nas minhas sete quintas, entro na padaria para ajudar a fazer o pão, e a coisa já não está bem, mas não dou importância ao assunto, afinal ainda só tenho quinze anos e tudo isto se deve á minha juventude, vou novamente para  Agricultura, daqui para analisador de vinhos, ando dum lado para outro mas nada me satisfaz.


Tenho dezoito anos, sou desafiado a  tentar a sorte na Marinha, inscrevo-me, faço as provas e sou aceite, vou para Fuzileiro, a especialidade mais próxima daquilo que tem sido a minha vida, uma «guerra» constante, (só que sem inimigos do outro lado para guerrear), afinal o estar fechado no Quartel sufoca-me, ando constantemente a salto, poucas vezes visto a farda de saída, a não ser quando saía autorizado, são castigos atrás de castigos, já todos sabiam onde me encontrar, e várias vezes lá ia o Jeep da P.N. a Palhais dar-me boleia para a Escola de fuzileiros, até que se fartaram de mim e me despacharam em grande velocidade, não sem antes comer o pão que o diabo amassou.

Saio da Marinha sou chamado para o Exercito, destino, Infantaria 7 Leiria, mas o filme foi o mesmo, fechado não é para mim, em pouco tempo despacham-me em grande velocidade tal como nos Fuzileiros, galo do campo não quer capoeira, penso eu, ando por aqui e acolá, o casamento assenta as Pessoas, ouvi dizer, então assim seja, Caso. Mas a rua continua a ser o meu meio natural, trabalhos são mais que muitos, fixo-me finalmente na reparação e substituição de candeeiros na iluminação Publica, acontece o 25 de Abril, acaba o trabalho no ano seguinte, mais uma vez aos saltos, até que 1976 me leva aos Serviços Municipalizados de Oeiras, trabalho nas estações de esgotos, é verdade que estou fechado, mas a maioria do tempo passo-o na rua, só preciso de ter o serviço feito, e bem, não tenho chefes á perna, estou bem, dois anos depois fico a chefiar o sector, são mais de vinte instalações espalhados pelos Concelhos de Oeiras, Amadora e Sintra, estou nas minhas sete quintas, quase não me sento no escritório, é ouro sobre azul, a rua sempre ela a chamar por mim!


Mas um dia, (há sempre um dia)  estou num a reunião nos Serviços Técnicos na Medrosa, (instalações que mostrei há dias abandonadas) e começo  mudar de cor, qual camaleão, uma Engenheira sentada á minha frente nota que não estou bem, e vai arranjar um copo de água com açúcar, saio á rua para apanhar ar, a coisa passa, penso que terá sido do muito tabaco que andava no ar, (naquele tempo fumava-se, e bastante em reuniões)  não ligo mais ao assunto, duas semanas depois vou com o meu Chefe a uma reunião á Firma Lusovema em Lisboa repete-se a mesma cena, aí sim comecei a pensar que alguma coisa não estaria bem, mas essas histórias das fobias não existiam, nunca tinha ouvido tal coisa, sabia que não me dava bem em locais com muita Gente, mas pensei sempre que era uma questão de gostos.

E no meio disto tudo a Família? Sim porque existe Família, Mulher, Filhos e Netos, pois é, com a Patroa fui uma vez ao cinema a Paço de Arcos, e o raio do intervalo que nunca mais chegava, saímos quando ele se dignou aparecer e até hoje, teatros? Restaurantes? Enfim festas? Nada, passeios? Só de carro, e várias vezes com o destino alterado a meio do percurso, bastava (basta) ver fila de carros parados á minha frente, (por isso mesmo evito autoestradas porque aí não posso sair se alguma coisa me obriga a parar), e com os Filhos? A mesma cena, coitados foram-se habituando, penso eu, pelo menos nunca reclamaram (acredito que vontade não lhes faltava) reuniões de Escola? A Mãe encarregava-se disso.
E eu? Sim também tenho vida para além do trabalho, pois é, reformei-me e pensei, agora isto vai, vou começar a sair porque esta mania foi-se instalando e parece que veio para ficar, e a coisa agravou-se porque passei a viver só para o trabalho, era de noite e de dia Sábados, Domingos e Feriados, mas agora acabou!


Acabou? Parece que não, a patroa vai com os Filhos passear á Madeira, então tu não vais? Eu ir de avião? Já vais, fico a tomar conta do cão! Vai a Itália com a Filha? Eu fico a guardar a casa! Ao restaurante? É pá agora estou lixado, a minha Irmã vai comigo a Vila Verde e insiste que tenho de ir almoçar ao restaurante, gaita não vou ficar mal na fotografia, e fui, não uma, mas duas vezes, até já me estava a habituar, pois conheço os proprietários há anos, afinal agora por causa destas modernices das registadores ligadas ao Fisco fecharam o restaurante, e dedicaram-se á agricultura, porra já é ter azar, agora acabou. E cafés? Aí vou, mas não me fechem a porta, porque com a história do ar condicionado têm a mania de estar de portas fechadas, aí não entro. 

Antes de ontem fui com a Filha a uma firma em Queluz, á entrada para o parque de estacionamento uma cancela, já não estou a  gostar disto, carrego no interruptor, a cancela levanta e entro, tem calma camarada que não vais ficar preso, andamos pelas instalações, mas eu só pensava na cancela, é que na da saída não vi nenhum interruptor para eu próprio a abrir, e também não havia funcionários á vista, tive de perguntar a um funcionário como ia sair dali, o Homem descansou-me que alguém a ia abrir, mas só me senti seguro quando a transpus. Hoje mesmo, depois da minha caminhada por Caxias e Paço de Arcos, depois de regressar a casa, saí novamente apeado, eram 8h55, passou por mim a Srª do quiosque onde costumo beber o café, como ainda ia ligar a máquina, segui e fui até ao Campo da Bola, outro café, mas também fechado, volto para espreitar o primeiro, ainda de portas fechadas, restava-me um terceiro, e próximo deste, olho lá para dentro e estão 3 pessoas ao balcão, e vão duas a entrar, acabou, isto já é gente a mais, regresso a casa sem beber o bendito café.


Depois de 1500 metros palmilhados, chego a casa e bebo lá o café, embora o da rua me saiba melhor! Resumindo toda a história que já vai longa; Hoje não tenho mais duvidas que aquilo que considerava mania é mesmo doença, chamem-lhe fobia ou outra coisa qualquer, e devia em tempo útil ter sido tratado para não chegar tão longe, não o fiz e não importa agora chorar sobre o leite derramado, deixo aqui este relambório por duas razões, na esperança que um Leitor desta minhas crónicas, (de quem gosto muito) faça uso delas, para não chegar a este ponto, porque os sinais não são nada animadores, e também para alertar algum Leitor que por aqui passe, para tomar nota nos sinais de alerta que aqui deixo. Fiquem bem, divirtam-se e não se tranquem em casa.

3 comentários:

António Querido disse...

Descobri agora que tivemos uma profissão em comum! É que eu também andei na venda do pão, porta-a-porta, não atrás do jerico mas em cima dele, a tocar uma corneta para chamar os fregueses, um dia destes vou contar a minha história no blog, quando a pachorra se inclinar para isso, agora vou lendo as tuas que acho bastante interessantes, com aquele tempero de humor que lhe metes, ficam mais saborosas!
Vai observando se já começaram a levantar as calçadas portuguesas aí em Lisboa.
O meu abraço

Armando Fonseca disse...

Também estamos com alguma sintonia, porque também eu andei em Alenquer a vender leite pelas portas, já lá vão quase sessenta anos

Tintinaine disse...

Hoje andei todo dia às aranhas com a internet que não me queria deixar entrar. E o teu blog esteve todo o dia inacessivel, não sei se o mal era do teu lado ou do meu. Finalmente consegui entrar e ler a história das tuas fobias, assunto que não é novo para mim, pois cá em casa tenho a «Raínha das Fobias» com quem me casei sem me aperceber da doença.
Tal como tu, ela também não consegue ficar em nenhum lugar fechado, não entra num elevador, barco ou avião e só se sente segura em cima dos próprios sapatos e no bairro onde nasceu.
Mas tem uma enorme diferença em relação às multidões, pois só se sente segura no meio de muita gente e quando se vê sozinha entra em pânico.
Como se costuma dizer, cada um com seus males!