HISTÓRIA ANTIGA, COM FOTOS DE ALENQUER, DE HOJE
Quem me conhece, ou me tem acompanhado aqui nos blogs há mais tempo, sabe que sou um bocadinho exagerado nas minhas apreciações, digamos mesmo um "exagerado para burro", como diriam os nossos Amigos Brasileiros, não é defeito, é mesmo feitio, talvez para abanar mais um pouco as consciências um pouco adormecidas pela crise e não só, por alguma razão se diz que somos um Povo de brandos costumes, e como de brando não tenho nada, lá vai disto que amanhã não há! Vem este introito a propósito da última mensagem que aqui publiquei e que se refere a um momento da minha vida, ao lerem o que lá escrevi poderão pensar que mais uma vez eu estaria a esticar-me um bocado, mas desta vez tudo o que ali escrevi não aumentei um milímetro àquilo que se passou.
E para terminar a anterior mensagem, acrescentarei mais umas palavras aquela aventura Familiar, pois foi a Família completa que sofreu na pele as diatribes mão só da Americana doida, mas também dos donos da casa que por ganância deixaram uma desconhecida destruir uma parte do seu património.
Então foi assim; andava eu trabalhando aqui e ali, nada de seguro para o futuro, a minha Maria idem, quando ao ler o jornal vi um anúncio que pedia Homem com carta de condução para trabalhos diversos, e a Mulher para cozinheira e outros serviços domésticos, acertámos ir lá fazer uma visita para ver se nos interessava e também aos anunciantes, lá chegados rapidamente chegámos a um entendimento, quatro contos Mês para o Casal, comida e casa, e carro para a saída semanal que era ao Domingo, o facto de já haver uma Criança não foi impeditivo para os Suecos, morávamos então em Paço de Arcos, e continuámos com a casa lá, onde íamos semanalmente na nossa folga.
O meu trabalho resumia-se a: tratar do Jardim, fazer a manutenção da piscina, levar os Meninos ao Colégio St. Julian's School em Carcavelos, alguma vezes ás compras ao Mercado de Cascais, ao Correio ao Estoril, ou transportar os Patrões ao Golfe pois toda a minha Gente era jogadora desse desporto de abonados (aliás a Filha é uma Jogadora de algum gabarito) tudo a correr bem até alugarem a casa àquela Madame, não a conheciam, foi tudo feito pela agência que anualmente tratava do aluguer naquele período em que iam para a Suécia.
Como escrevi anteriormente a nova inquilina da mansão vinha de malas aviadas, parecia que para toda a vida, não só o que trouxe, mas aquilo que comprou depois de instalada.
Contratou um Chofer uma Cozinheira, e uma Senhora para passar a ferro e costurar, os primeiros iam pelos próprios meios (transportes públicos) a costureira era eu que transportava para, e da Amoreira Estoril, mandou fazer fardamentos para os dois primeiros. Um dia ia a Cascais com ela! O Chofer ao meu lado, ela no bando de trás, quando cheguei ali próximo do Casino passei o volante ao Rapaz-Chofer, ela não disse ai nem ui, fomos e viemos, e quando chegámos a casa ela disse-me que não queria mais o Rapaz a conduzir, e assim gramei a pastilha até ao fim, e o Chofer por ali andou aos caídos aquele tempo todo, fardado a preceito que parecia um Marechal sem tropas.
Mandou colocar rede mosquiteira em todas as janelas e portas, arrancou das paredes tapeçarias antigas destruindo algumas, mandou forrar os sofás com tecido porque não gostava da cor destes, aquilo foi uma autentica revolução, mas o pior para mim foi quando ela viu a minha Menina, e gritou que não queria lá Crianças, aqui é que a porca torceu o rabo, a minha primeira reação foi ir embora dali, mas ouvi o conselho da Maria e telefonei para a Suécia, para dar conta do que se estava a passar, para surpresa minha a Patroa com quem falei, (ela falava melhor Português que ele) não se mostrou nada preocupada com a destruição que estava acontecer na sua casa, e sobre a maluca não querer lá a Menina, assumiu que se tinha esquecido de informar a arrendatária da existência dela, que só referiu o Menino, disse-lhe que ia embora hoje mesmo, mas ela pediu-me para não o fazer, e levasse a Menina á minha Mãe que ela pagava o que fosse, como se uma Criança fosse um objeto qualquer.
Claro que a Menina não foi para a minha Mãe, andou aqueles Meses escondida, eu colocava o carro na garagem, ela baixava-se entre os bancos até sair o portão e vinha passear até ao Estoril ou Cascais com ela, só quase no fim é que foi descoberta, aventurou-se a ir para a piscina e foi apanhada com a boca na botija, mas nessa altura já eu não passava cartão aquilo que ela dizia, já tinha metido P.S.P. e P.I.D.E. e estas já me tinham informado que ela tinha arranjado sempre problemas por onde tinha passado, e para eu ficar descansado, só não podia abandonar a casa, pois a responsabilidade desta era minha, enfim, aguenta que é democrático.
Tínhamos lá um Homem que tratava da parte cultivada dos terrenos anexos, cortava lenha, semeava alguns produtos etc. um dia venho eu no caminho (semi-privado) que dá para a habitação e vejo o Homem sentado na berma, paro e pergunto-lhe o que está ali a fazer? Ele responde-me que lhe apareceu uma mulher nua a gritar com ele para se ir embora que não queria barulho ali, lá foi comigo e fez o que tinha a fazer.
Outra vez chego lá e há um borburinho junto da piscina, corro para lá e está o Estofador, a quem ela tinha mandado fazer alguns trabalhos a querer afogar a Mulher se ela não lhe pagasse o que devia, aquilo só visto, nunca tinha passado por cenas como as que ali vivi.
Como disse na outra mensagem, no próprio dia que os Suecos chegaram a Portugal, despedi-me, e fui pregar para outra freguesia, o Sr. Percival Calissendorf chorou ao despedir-se de nós, a Senhora faleceu em 1979, fui ao seu funeral no Cemitério Inglês ali junto ao Jardim da Estrela, entretanto venderam a mansão e foram viver para as "Casas da Gandarinha" em Cascais, ainda o visitei, já tinha uma idade bastante avançada, (nasceu em 1904) e queria que fossemos trabalhar para ele novamente, mas já era tarde.
5 comentários:
Quanto mais difícil a prova, mais saborosa a vitória.
Podes sentir-te feliz por teres ultrapassado todas essas dificuldades e chegar onde chegaste.
Um abraço e força para mais uma semana que começa.
A máquina de cortar relva despertou-me a atenção, porque aqui faz parte do quotidiano e mais me parece um disco voador... Hehehe!... Quanto à cena de troca de chauffer, bom, a americana suponho que se sentia "mais à vontade" com o amigo Virgílio mesmo sem farda... dando-me a impressão que faltam pormenores na história... Espero que haja a Terceira Parte.
Continua amigo Virgílio, a contar mais das tuas histórias. esta está muito bem contada.Com belas imagens de Alenquer, e as peripécias da madame americana, solteirona que tinha um motorista, uma cozinheira e uma engomadeira, nada de exagero para uma mulher só. Ainda lhe faltava um homem para a despir, outro para lhe dar banho e ainda outro para a vestir. As coisas queo dinheiro faz?
Boa tarde para ti amigo Virgílio,
um abraço
Eduardo.
Ontem fui ver "A Gaiola Dourada", e esta tua história é parecida, só com a diferença: as nacionalidades de patrões e empregados estão invertidas! Se te aguentares dentro de uma sala de cinema, vai ver isto, vale a pena.
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