O vistoso Grupo Excursionista Passos Coelho &
Compinchas foi a uma almoçarada em Alcobaça. Deslocou-se, o grupo, em potentes
automóveis, levando consigo, convenientemente, os guarda-costas habituais. Um
número incontável de viajantes. Poderiam, talvez, viajar de autocarro, mas não.
A decisão foi tomada em Conselho de Ministros anterior, com a veemência que
deliberações desta natureza exigem e justificam. No presumível autocarro, a
excursão seria mais divertida: um bulício de conversas e de risos, uma troca de
histórias matreiras, acaso inconfidências risonhas e intercâmbio de pequenos
segredos.
O selecto conjunto ia discretear sobre as maleitas da
pátria e, porventura, encontrar soluções para o que nos aflige. Poderia, a
reunião, ter sido em Algés, na Trafaria ou na Tia Matilde. Qual quê? O recato
do mosteiro e o meditativo silêncio eram convites indeclináveis à grave
reflexão a que se propunha aquela gente considerável.
Acontece um porém: na capela ia celebrar-se um
casamento, e um repórter curioso aproximou-se, lampeiro, de gravador em punho.
Esclareceu a jovem, vestida a rigor com véu e flor de laranjeira, a
coincidência de o Governo estar ali, e ela também para o enlace desejadamente
jubiloso. Espavorida, fugiu para o interior do monumento, sem a complexidade
indecisa dos que olham para o poder com reverente obséquio. Entendeu,
provavelmente, a noiva que o encontro não era sinal auspicioso e que a presença
simultânea de tantos ministros dava azar.
Tomando as coisas pelo seu nome, acerca de que
conversaram, aqueles que tais; que valores absolutos como a verdade, o bem, o
sagrado, a beleza alinharam no que disseram? Adquiriram consciência de que a
unidade dos valores morais está a desintegrar-se rapidamente, por culpa
própria? O recolhimento piedoso do local era propício a actos de meditação e,
por decorrência, à contrição e ao remorso.
Mais prosaicamente, que comeram os excursionistas?
Embrulharam lanche? Levaram marmita? Passear, decididamente, não. O coro de
protestos, de vaias e de insultos que os recebeu teria afugentado qualquer
ideia de turismo. No final, o ministro Poiares Maduro, em resposta à ânsia
noticiosa dos jornalistas, disse umas frases inócuas. Percebeu-se, no enredo,
que o encontro de Alcobaça redundara em nada, rigorosamente em nada; que nada
se decidira, que tudo fora absurdo, confuso e disperso.
Texto de Baptista-Bastos, no Diário de Noticias de 26-6-3013
2 comentários:
Havia de ser bonito ver esses maganões dentro de um autocarro de excursão a caminho de Alcobaça!
E eu podia meter uma cunha ao Rafael e iam almoçar àquele restaurante onde nós fomos no ano passado. Comeu-se bem e só pagamos 12.50€ por cabeça.
Tinha-se poupado uma pipa de massa do Orçamento de Estado!
Ministros, em Alcobaça, transportados em carros de luxo. Por conta do Zé pagando, lá foram encher o buxo.Para eles ficou a custo zero. Mais barato ainda do que ficou o nosso almoço, no restaurante junto da casa do amigo Rafael, onde fomos almoçar como refere Tintinaine no seu comentário.
Cortam nas nossas pensões, para gastarem em seu proveito. Pelo país a passear andam muitos ministros. Não nos transportes públicos aos encontrões porque têm muitos carros de luxo. Assim se gastam milhões!
Bom fim de semana e um abraço para ti, amigo Virgílio.
Eduardo.
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