quarta-feira, 26 de junho de 2013

MINISTROS EM ALCOBAÇA


O vistoso Grupo Excursionista Passos Coelho & Compinchas foi a uma almoçarada em Alcobaça. Deslocou-se, o grupo, em potentes automóveis, levando consigo, convenientemente, os guarda-costas habituais. Um número incontável de viajantes. Poderiam, talvez, viajar de autocarro, mas não. A decisão foi tomada em Conselho de Ministros anterior, com a veemência que deliberações desta natureza exigem e justificam. No presumível autocarro, a excursão seria mais divertida: um bulício de conversas e de risos, uma troca de histórias matreiras, acaso inconfidências risonhas e intercâmbio de pequenos segredos.

O selecto conjunto ia discretear sobre as maleitas da pátria e, porventura, encontrar soluções para o que nos aflige. Poderia, a reunião, ter sido em Algés, na Trafaria ou na Tia Matilde. Qual quê? O recato do mosteiro e o meditativo silêncio eram convites indeclináveis à grave reflexão a que se propunha aquela gente considerável.
Acontece um porém: na capela ia celebrar-se um casamento, e um repórter curioso aproximou-se, lampeiro, de gravador em punho. Esclareceu a jovem, vestida a rigor com véu e flor de laranjeira, a coincidência de o Governo estar ali, e ela também para o enlace desejadamente jubiloso. Espavorida, fugiu para o interior do monumento, sem a complexidade indecisa dos que olham para o poder com reverente obséquio. Entendeu, provavelmente, a noiva que o encontro não era sinal auspicioso e que a presença simultânea de tantos ministros dava azar.

Tomando as coisas pelo seu nome, acerca de que conversaram, aqueles que tais; que valores absolutos como a verdade, o bem, o sagrado, a beleza alinharam no que disseram? Adquiriram consciência de que a unidade dos valores morais está a desintegrar-se rapidamente, por culpa própria? O recolhimento piedoso do local era propício a actos de meditação e, por decorrência, à contrição e ao remorso.
Mais prosaicamente, que comeram os excursionistas? Embrulharam lanche? Levaram marmita? Passear, decididamente, não. O coro de protestos, de vaias e de insultos que os recebeu teria afugentado qualquer ideia de turismo. No final, o ministro Poiares Maduro, em resposta à ânsia noticiosa dos jornalistas, disse umas frases inócuas. Percebeu-se, no enredo, que o encontro de Alcobaça redundara em nada, rigorosamente em nada; que nada se decidira, que tudo fora absurdo, confuso e disperso.
 
Texto de Baptista-Bastos, no Diário de Noticias de 26-6-3013

2 comentários:

Tintinaine disse...

Havia de ser bonito ver esses maganões dentro de um autocarro de excursão a caminho de Alcobaça!
E eu podia meter uma cunha ao Rafael e iam almoçar àquele restaurante onde nós fomos no ano passado. Comeu-se bem e só pagamos 12.50€ por cabeça.
Tinha-se poupado uma pipa de massa do Orçamento de Estado!

Edum@nes disse...

Ministros, em Alcobaça, transportados em carros de luxo. Por conta do Zé pagando, lá foram encher o buxo.Para eles ficou a custo zero. Mais barato ainda do que ficou o nosso almoço, no restaurante junto da casa do amigo Rafael, onde fomos almoçar como refere Tintinaine no seu comentário.
Cortam nas nossas pensões, para gastarem em seu proveito. Pelo país a passear andam muitos ministros. Não nos transportes públicos aos encontrões porque têm muitos carros de luxo. Assim se gastam milhões!

Bom fim de semana e um abraço para ti, amigo Virgílio.
Eduardo.