Prometi ao Tintinaine que contaria aqui como conheci o Comandante Alpoim Calvão, estou convencido que até já o fiz nalgum dos blogs onde tenho escrito, mas como repetições ainda não pagam imposto, e a a data é oportuna, pois tem a ver com a apresentação do livro que este escreveu, e irá apresentá-lo no Porto, como aliás já fez em Lisboa, então aqui vai.
Foi assim, estávamos no inicio do Mês de Abril de 1966, e após vários castigos que me foram infligidos por diversas infracções ao Código de Disciplina Militar, recebo ordem de expulsão da Escola de Fuzileiros a minha Unidade Militar, com guia de marcha para o Alfeite, embora estivesse preparado para mais castigos, este da expulsão da minha Unidade foi um choque para que não estava preparado.
Mas como para grandes males, grandes remédios, logo arranjei maneira de ultrapassar a situação, logo que o Oficial de Dia me acompanhou ao autocarro Militar que me levaria para Alfeite, com o aviso solene ao Motorista do mesmo, que só me deixasse sair no destino, preparei-me para o pior, e o pior seria eventualmente levar um tiro na Porta de Armas, sabia que o autocarro tinha de parar neste local, e como as portas nesse tempo ainda não tinham estas mariquices modernas de fechos automáticos, assim que este afrouxou, aí vou eu, lá dentro deixei o saco com algumas roupas que levava comigo, embrenhei-me na Mata sem problemas, donde só regressei já noite, alojando-me numa camarata, que não recordo já, se era a mesma onde pernoitava anteriormente ou outra.
A partir daqui fui dado como ausente, pois já não pertencia a esta Unidade, e na de destino nunca tinha lá chegado, assim permaneci cerca de uma semana, comia na cozinha, com a benção do Cabo do Rancho, dormia na caserna, e de dia passava-os em Palhais a Localidade mais próxima da Escola de Fuzileiros, namorando ou estudando a maneira de sair deste novelo em que estava metido, os dias iam passando e daqui a pouco era considerado desertor, o que era péssimo pois nesta situação quando fosse apanhado era Forte de Elvas pela certa, e aí a coisa fiava mais fino.
Assim, congeminei o que pensei ser o melhor para sair da embrulhada que me tinha metido, em conversa com os Amigos de Palhais, Carlos e Hugo, combinámos em dar o salto para França, os dois eram menores de idade e civis, eu com 19 anos e Militar, estava ali um trio para o que desse e viesse.
Separados, interrogados, e no que me toca «cumprimentado» por um esbirro da Policia politica, fui de seguida entregue a uma Unidade Militar de Elvas onde permaneci cinco dias, após os quais um Cabo e um Marinheiro Fuzileiros me foram lá «visitar» e convidar-me a acompanha-los até á Prisão do Alfeite, viagem que fizemos de comboio.
Do Carlos nem sombra., afinal ele continuou pela vida fora aventureiro (a ultima noticia dele é de Martinica) só nos voltámos a encontrar, já ambos com cabelos brancos como se pode ver na foto do nosso reencontro mais de trinta anos depois.
Cerca de dez dias depois de chegar ao Allfeite, um novo duo de Fuzileiros, um deles já reincidente no meu acompanhamento pois tinha ido a Elvas fazer-me companhia, de regresso ao Alfeite, levam-me até á Escola de Fuzileiros no Autocarro Militar que fazia o transporte regular entre as duas Unidades, mas desta vez (talvez por terem sido informados que já uma vez me tinha safado do autocarro), desta vez dizia e ao contrário da viagem Elvas-Alfeite, algemaram-me, chegados á Escola de Fuzileiros largam-me no meio da parada, e vão para o bar, um engraçadinho pensando que as algemas eram alguma brincadeira apertou uma até não poder mais., resultado juntou-se um grande grupo á minha volta cada um com uma sugestão para abrir as algemas que já estavam a fazer estragos no pulso, até que o Oficial de dia manda destroçar aquela malta e faz-me entrar no gabinete, aqui chegado foram chamados pela instalação sonora os meus guardas para me abrirem as algemas, o que aconteceu pouco depois.
Nesta altura entra o Capitão Tenente Alpoim Calvão, de quem toda a gente falava pelos seus feitos na guerra da Guiné, que me questiona a razão de andar ali algemado, contei-lhe a história mais recente dos acontecimentos que me levaram a dar o fora com destino ao desconhecido, explicando que os dias anteriores á minha partida da Escola, e que estava dado como ausente de facto estava presente, embora como era lógico não desse as caras, pois tinha sido corrido para outra Unidade mas estive sempre a ajudar na cozinha como podia testemunhar o Cabo do Rancho, Alexandre.
Acabada a explicação com o pedido de ele interceder na minha defesa, para ver se não ia parara o Forte de Elvas., e transportando os poucos pertenças que tinham sobrado do saque que fui vitima, e a razão dessa minha ida á Escola, regressei com os meus guardas novamente á prisão no Alfeite, alguns dias depois comunicam-me que arranjasse roupa civil que me tinham expulsado da Marinha, o que de facto aconteceu. Como vez Tintinaine, o meu contacto com Alpoim Calvão foi nestas circunstâncias, e ainda hoje estou convencido que ele terá feito alguma coisa para a minha libertação, se não esteve nada a ver com isso, também não tem importância.
3 comentários:
Pois a história já conhecia, embora não recorde se tinhas ou não mencionado a intervenção do Alpoim Calvão.
Tenho alguma curiosidade sobre o que constará no livro, mas desconfio que não seja bem o género de coisa que gosto de ler. A maior parte das vezes estes relatos são uma feira de vaidades que se destina aos outros oficiais de Marinha e pouco interesse têm para o pessoal de fora.
Vou ficar à espera para ver o que diz a crítica.
Alpoim Galvão seria mais tarde o cerebro "da Operação Mar Verde"... que como aconteceu à grande aventura do Virgílio a coisa também não lhe correu bem.
Grande Fuzo,
Que nunca vergou
Contra o abuso
Não se calou!
Da Marinha dispensado
Para o Exército marchou
Depois de ter tentado
Desertar,
à disponibilidade passou!
Com orgulhar a contar
Como tudo se passou
Bem o queriam castigar
Mas alguém o salvou?
Boa quinta-feira para ti,
amigo Virgílio
um abraço
Eduardo.
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