Escola de Fuzileiros inicio do ano de 1966, após uma troca de pontos de vista mais acalorada com o Tenente Oliveira no gabinete do Oficial de Dia, este dá-me ordem de prisão, é Domingo e na Escola de Fuzileiros como é tudo Rapaziada bem comportada não acharam necessário construir uma prisão, acresce o facto de só o Comandante da Escola ter poder efetivo para decretar esse castigo, mas Oficial é Oficial, e o poder, quando não se tem, arranja-se, e foi isso que fez o «amigo Oliveira» chama o Sargento Dia e pede~lhe Homens para guardarem este «perigoso fugitivo» que mais uma vez tinha sido apanhado pela ronda em Palhais, só hoje já é a terceira vez que a ronda o apanha por lá, e ainda com a agravante de estar com a farda de trabalho que como se sabe só é usada dentro da Unidade.
Sr. Tenente, diz o Sargento, como hoje é Domingo não temos Homens disponíveis guardarem o gajo, há sempre uma solução, tirram-se as Sentinelas dum posto que não ponha em causa a segurança da Unidade ou dos Paióis da Mata da Machada, e pronto, está encontrada a solução para o problema, faltava apenas o local para servir de prisão até ao dia seguinte quando o preso fosse presente ao Comandante da Escola, não podia ser local onde ouvesse mais Gente não vá dar-se o caso de ter de se disparar algum tiro se ele tentar fugir, pois o gajo é especialista em andar de «salto», temos a casa do carvão, diz o Sargento, não tem porta mas com o preso lá dentro e os Sentinelas cá fora não há problema, e o local até é do melhor, fica junto ao Cais dum lado, e Pista de lodo do outro o que reforça a segurança.
Assim se fez, no dia seguinte e após assistir a uma afogamento dum Instruendo, e ter salvo um outro ainda que sobe a ameaça de levar um tiro do Sentinela que não queria por nada que eu me atirasse ao «malagueiro» local onde se deu o afogamento.
Levado ao Comandante este decreta 20 dias de prisão disciplinar agravada, calma aí que para contas de cabeça não sou mau, e estes 20 dias somados á lista que já tinha, era trigo limpo Forte de Elvas com ele, não fora esse facto não falava no assunto, mas o Forte assustava-me e falei: Sr. Comandante não há um desconto a esse número pelo facto de ter salvo á pouco um Recruta de afogamento? respondeu que não sabia de nada e madou o Impedido chamar o Tenente Moitinho de Almeida para confirmar ou não o que eu tinha dito, este chegou, confirmou, e a pena foi reduzida a metade, que fui cumprir para a Prisão do Corpo de Marinheiros no Alfeite.
Aí chegado, sou informado por outro detido da presença ali no xilindró do famoso G3, de que toda a Gente falava, claro que tive de me aproximar do Personagem e ao longo dos dias, dois dedos de conversa tivemos, p+poucas foram as pallavras, por um lado todos queriam ouvir o Homem, e por outro este estava compltamente de rastos devido ao tratamenro que a P.I.D.E. lhe tinha dado.
Saio e o G3 fica, sou devolvido á Escola de Fuzileiros, e aqui recebo a informação que vou sr transferido para o Alfeite, é pá. isto não estava no programa, aqui é como estivesse em casa, conheço os cantos á casa, dou o salto com a maior facilidade, e no Alfeite a coisa deve ser mais complicada, e também não sei o que me espera por lá em termos disciplinares, estou marcado, e o melhor é pirar-me daqui, sou acompanhado pelo Oficial de dia até ao autocarro Militar que faz o transporte para o Alfeite, este não se esquece de dizer ao Condutor que não me deixasse sair antes do destino, estava enganado o bom Homem, logo que o transporte parou junto ao Portão de Armas, aí vai o fugitivo Mata adentro, para nunca mais ser apanhado, nunca mais uma virgula, como se pode ver mais á frente.
Permaneço anónima-mente mais cinco dias na Escola, onde como e durmo, que a crise aperta, nas horas em que não estava a fazer uma coisa nem outra dava uma ajuda na cozinha pois era aí que matava a galga, (Obrigado Cabo Alexandre) cinco dias depois, no Sábado de Aleluia do ano da graça de 1966, com o meu Amigo Carlos Bento parto a caminho de Espanha, sempre a pé, até sermos apanhados pela P.I.D.E. junto á Fronteira do Caia, somos levados para o Posto, e daqui encaminhados para Elvas outra dependência destes esbirros, fomos de inicio bem tratados, não disse que estava na Marinha, pois tinha 19 anos e pensei que os gajos não descobrissem e me mandassem em paz, uma gaita, após nos separarem, (separação que durou mais de 30 anos) na manhã seguinte sou confrontado com uma foto minha fardado de Marinheiro, não desmenti mas mesmo assim ainda me enfardaram uns sopapos, horas depois sou transportado para a Unidade Militar Caçadores Nº 8 ainda em Elvas onde permaneço cinco dias até uma ronda da Marinha me ir buscar, direitinho á prisão do Alfeite e á companhia de mais ou menos quarenta corrécios que lá estavam pelas razões mais diversas, e do António Tavares Trindade, mais conhecido por G3.
Ali permaneci mais uma temporada curta após o que me mandaram para a vida Civil, e do G3 nunca mais soube nada, até que com a Internet e os blogs de antigos Marinheiros e entre estes o Titinaine foi o mais aplicado na tentativa da sua descoberta, ou simplesmente do que lhe teria acontecido, pois as informações referentes ao período em que este esteve preso, era de que a P.I.D.E. lhe tinha dado cabo do canastro, o que é verdade, mas não o mataram como se constata, pois está ainda vivinho da silva, após a sua descoberta, que foi também com o empenhamento do Fernando Maudslay, (outro Companheiro do Cárcere) estive com ele por diversas ocasiões, onde me fez um relato da sua vida em especial no que se refere á sua fuga na Guiné, e consequente apoio ao P.A.I.G.C., daí mais uma saída para Argel, onde fica como Guarda Costas do General Delgado, e após a morte deste a sua saída apressada de Argel e a travessia apeada que fez duma parte do deserto até Casablanca em Marrocos onde se entregou ao Consulado Português nesta Cidade.
Perguntarão o porquê de tanto paleio, a resposta é simples, apeteceu-me relembrar este período da minha vida, e dar aqui a noticia da apresentação do livro escrito pelo G3 nos ultimos anos e agora editado.
Assim será apresentado no Sábado 24 deste Mês de Novembro, pelas 16.30 horas na Livraria Barata na Av. de Roma nº11, lá estarei, embora não prometa permanecer se se confirmar que irá estar muita Gente como o próprio me disse, ele sabe que sou alérgico a multidões, mas deve ter-se esquecido disso, e foi-me dizendo que ia lá estar muita Gente do Bairro onde mora.
Para os Fuzileiros mais antigos, fica a informação de que prometeram estar presentes; o Tenente Patrício, que não conheço mas sei que se trata de Pessoa muito estimada por todos os que com ele privaram, também o Mário Manso, (grande impulsionador da Associação de Fuzileiros) e que curiosamente fui eu que lhe apresentei G3. após a sua recente redescoberta.
Estou muito curioso na leitura do livro, calculo que será uma decepção, para alguns que não lhe perdoam o ter desertado, e mais ainda para aqueles que acreditam que foi ele que ensinou os Guerrilheiros a manusearem armas, e quiçá de ter ferido ou morto Camaradas seus, acredito que estes ainda hoje não lhe perdoam, estou certo que ele esclarecerá a razão de o terem alcunhado de G3, e que nas historias fantásticas que se ouviam seria por escrever o nome dessa arma em tiro de rajada com a mesma, também outra curiosidade que gostava que ele explicasse era a razão porque lhe chamavam capitão G3, se ele era Marinheiro e na Marinha não há Capitães, a não ser acompanhados doutro nome, enfim curiosidades para desvendar cinquenta anos depois.
Para os Marinheiros em especial, aqui vão uma série de fotos tiradas do Terreiro do Paço e apanhando o Alfeite, e outras da Escola de Fuzileiros.
´Na foto a preto e branco, o G3 está ao lado do General Delgado.
4 comentários:
Também fui convidado a estar presente nesse lançamento, embora não acredite nas razões de quem me passou o convite. Pelo que ouvi acho que vai aparecer por lá alguém com vontade de contestar o filho da minha escola.
Com ele perdi o contacto há tempos. Na festa do nosso CINQUENTENÀRIO fiz de tudo para o contactar, escrevi, telefonei, só me faltou viajar até ao Bairro do Alvito para falar com ele pessoalmente, tudo sem sucesso.
E fiquei admirado de não receber um convite do Mário Manso que foi quem se encarregou da publicidade junto dos 2filhos da escola":
Já que falam no filho da escola G3, devo acrescentar a versão que ouvi, em comissão: Quando desertou, era encontrado o seguinte escrito em troncos de árvores:«Por aqui passou o capitão G3»,no grupo de guerrilheiros onde dava instrução de manejo de armas, foi promovido a capitão, mas enfim como está vivo só ele saberá confirmar, gosto da tua história na Marinha, embora atribulada, que também daria um excelente livro, se fosse mais perto, quem marcava presença era eu, porque sempre tive curiosidade em conhecer o capitão G3, pela sua coragem, quem sabe se não nos encontrámos no xilindró do Corpo de Marinheiros em 1968, visto que também lá deixei a minha marca.
Boa tarde amigo Virgílio, depois de ler este teu artigo "recordando e anunciando", penso que deves escrever um livros, caso o entendas fazer.Tiveste perto do Forte da Graça, em Elvas. Segundo ouvia dizer quando a seis de Maio de 1963, fui hospedado no BC8, hotel de 5 estrelas Que não brilhavam no céu. Que a estadia lá no forte não era nada agradável. Também vou aqui contar como foi a minha chegada à estação da CP, a Elvas.
Eram umas 5 da tarde, desse dia seis de Maio do ano de 1963. Estavam camionetas do Exército para nos transportar ao dito Quartel.
Um cabo miliciano muito vaidoso perguntou porque motivo só tinhas chegada àquela hora. Eu que desconhecia o que era disciplina militar, de imediato respondi, ao suposto vaidoso cabo miliciano de mãos nos bolsos das calças que na altura vestia.
O gajo logo me disse tira as mãos dos bolsos e põe-te em sentido porque estás a falar com um superior. Eu sabia lá o que era um superior militar. Eu habituado a lidar com bois, bestas e burros, fui encontrar uma besta maior, mas tive que obedecer nem sempre para levar muitos coices!
Boa quarta-feira para ti,
amiga Virgílio,
um abraço
Eduardo.
Li 2 vezes não fosse perder algo... Creio que está aqui assunto suficiente para escrever coisa mais a sério.
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