AI OS OSSOS

Um Homem devia ter prazo de validade, como por exemplo os iogurtes, o fiambre, os pezinhos de coentrada, ou ainda das ervilhas de cheiro, dentro do prazo consome-se sem medos, (ás vezes lixa-mo-nos) quando está fora do prazo assujeitamo-nos a, no mínimo uma valente caganeira, e no limite ir desta para melhor, portanto dentro do prazo de validade é garantido a 100%,  então  e nós simples mortais? não temos prazo nenhum? uns vão antes do prazo, outros cedo demais, alguns vão tarde, (e deviam ir cedo), mas poucos se gabam de andar por aí cantando e rindo sem mazelas que os apoquente, uns mais dados á pieguice outros mais deixa andar que o meu Pai é Bombeiro, mas por esta ou aquela razão todos temos o nosso Calvário para cumprir.

Vem este paleio a despropósito de andar para aqui todo empenado  dos ossos do esqueleto, um gajo para olhar para o lado tem que  virar o corpo todo, (mais ou menos como o moleiro, que tem de virar capelo e velas á procura do lado do vento), em vez de ser só o pescoço a fazer o serviço. Para dormir é complicado, vira para a direita, dói, vira para a esquerda ainda dói mais, uma gaita de vida sem validade nenhuma, as pernas ainda têm cumprido a  sua obrigação, mas ultimamente também elas estão a querer entrar em greve, na dobradiça que fica mais próxima do cinto que segura as calças, deve ser falta de lubrificação ou o caraças, que ás vezes até ouço um barulho que parecem rolamentos gripados.

Depois tenho insónias, já repararam que ando de noite como os morcegos, pois é a cama, não quer nada comigo, muitas noites lá vou eu para a sala, para não incomodar quem dorme, por azar agora tenho um sofá que não dá para esticar o cadáver completamente, fico para qui encolhido, e depois de madrugada quando me levanto estou mais dorido que que quando levava aquelas coças de criar bicho na instrução dos Fuzileiros, e com a crise não dá para substituir estes que estão melhores que eu, já pensei dar-lhe sumiço mas a Patroa não vai na conversa e ela é que administra a casa, estou lixado e mal pago, então isto é mesmo um verdadeiro vale de lágrimas.

Hoje estou assim mais queixoso porque o corpo desabituou-se de trabalhar, e qualquer coisita fora do normal, que é o cu no sofá, ou na cadeira do quiosque do Filipe, fica logo todo dorido, ontem andei a fazer uma floreira de madeira para fazer companhia a uma outra que fiz á semanas, para ver se me consigo livrar de tantos vasos que a minha Maria tinha, e que me ocupava todo o telheiro que foi feito para abrigar o carro, depois apanhei umas azeitonas duma oliveira que tenho no quintal, depois ainda fui até ao sopé da Serra apanhar umas capôas, vulgarmente conhecidas por cogumelos, e apanhar musgo para o Presépio, como se vê nada de esforços, e afinal estou aqui com um saco de água quente nos rins, todo tolhido parece que me passou o comboio por cima, estou em crer que ultrapassei mesmo o prazo de validade.

 

Há! Ainda fui visitar dois Amigos, e ambos me obsequiaram com vinho e água-pé, talvez tenha sido esse o esforço maior que me colocou neste estado quase vegetativo, pois os garrafões ainda pesam á volta de cinco quilos cada, e foram três! Ó Joaquim Vicente andastes a fazer o vinho com o Zé Domingos e agora sou eu que o bebo, quando regressares já os barris estão vazios.
Olha vou beber á nossa saúde, e também vou fazer um brinde ao Obama, que limpou aquilo ao milionário retrógrado, só espero que ele vá cumprindo o que prometeu, mas as coisas por aí também não estão famosas.